sábado, 7 de dezembro de 2013

A Linguagem de Deus – Parte XII

Minhas anotações sobre o livro “A Linguagem de Deus”, de Francis Collins – Parte XII


Chegamos ao capítulo 11, o último da terceira parte do livro.

Nesse capítulo Collins narra o processo de reconhecimento da fé que o levou a Cristo. Partindo de sua passagem como médico voluntário em um longínquo e precário hospital na Nigéria em 1989 narra o que considera ter sido uma das suas mais significativas experiências humanas, ao lado do leito de um paciente que salvara da morte certa. O que aquele paciente lhe disse impactou definitivamente sua maneira de ver a fé.

Collins diz que há evidências de uma mente inteligente que pode ter criado todos os princípios exatos e superiores das leis na natureza. Mas questiona: o que fazer com essas evidências? Ele mesmo responde: cada um decide. O mais importante para ele é que essas evidências apontam para um Deus que se preocupa com as pessoas. Por isso, diz, “o deísmo não serviria para mim”. Mas, apesar disso, quão difícil é construir uma ponte para Deus! Collins pensa que a oração é essa ponte, uma forma de buscar afinidade com Deus, de perceber seus pontos de vista.

Collins reflete sobre a consciência de sua incapacidade de fazer a coisa certa e, aprofundando esse raciocínio, em determinado ponto finalmente chegar ao conceito de  “pecado” e relata como foi difícil assimilar essa palavra que sempre lhe parecera antiquada, vulgar e taxativa. Pecado fala de nossa natureza imperfeita diante da perfeição de Deus! Onde a cura?  É então que ele chega a Cristo! Collins descreve todo o processo de pensamento, angústias e buscas até o momento em que ajoelha-se e se rende a Cristo. “O cientista que havia em mim se recusava a ir mais naquela trilha rumo a uma crença cristã”.  É uma passagem longa onde ele chama mais uma vez C. S. Lewis em seu socorro. Fala de suas dúvidas a respeito da autenticidade do texto bíblico. “Talvez Cristo fosse apenas um grande mestre espiritual”.  Mais uma vez Lewis o adverte: Ou Cristo é Deus ou um lunático, porque só um louco diria de si mesmo ser filho de Deus. Não há a menor chance de Cristo ter sido um mestre espiritual.  Collins chega à percepção do mistério da encarnação de Cristo e à aceitação desse mistério como uma necessidade teológica: “A revelação especial da natureza de Deus em Jesus Cristo é um componente vital da minha fé”.

Collins, no entanto, procura se distanciar do tom arrogante, taxativo e hipócrita que, segundo entende, caracteriza os cristãos. “Cristo jamais foi assim”. Narra a parábola do Bom Samaritano para ilustrar o quanto Jesus valorizava o mandamento maior de “amar ao próximo”. Adverte, contudo, que, sendo a fé não apenas uma prática cultural e sim a busca de uma verdade absoluta, não devemos nessa busca ir tão longe a ponto de afirmar que todos os pontos de vistas conflitantes são igualmente verdadeiros.  “O monoteísmo e o politeísmo não podem ambos estar certos”. Em outras palavras, advoga o respeito a outras tradições religiosas e vê valor nelas, mas entende que, se para si o cristianismo responde absolutamente, cada pessoa deve realizar sua própria busca. 

Procura, e acharás.  Com esse tópico Collins tenta resumir a busca de significado para a vida. A ciência é o único caminho para investigar o mundo natural. Apesar disso a ciência não responde a todas as questões importantes. A ciência não é a única forma de aprender. Seus instrumentos são limitados. A dimensão espiritual, a alma humana, lhe escapa. A declaração dos ateus de que aquelas questões principais (Quem somos? De onde vimos? Para onde vamos?) são irrespondíveis e, portanto, irrelevantes, não condiz com os anseios humanos.

Collins faz em seguida algumas advertências: 1-Aos que acreditam em Deus: acalmem-se; Deus não pode ser ameaçado pela nossa mente minúscula em seus esforços para compreender Sua criação. A ciência pode ser uma forma de adoração. Cuidado para não fazer a igreja cair no ridículo (lembrem de Copérnico). 2-Aos cientistas: têm medo de a fé parecer irracional? De todas as visões de mundo possíveis a ateísta é a menos racional. Não entende o problema do sofrimento humano se Deus é bom? Num mundo onde gozamos de livre arbítrio o sofrimento é inevitável e a maior parte dele decorre do exercício desse livre arbítrio. Embora seja difícil compreender, a ausência total de sofrimento não favorece ao nosso crescimento intelectual. A incapacidade da ciência em responder todas as questões parece-lhe um frustrante soco no estômago? Esse soco precisa ser reconhecido, assimilado e aprendido. Pensa que a espiritualidade pode ser escravizante?  Deus está no ramo da libertação e não da carceragem. Por fim não tente adiar uma reflexão séria sobre Deus. A vida é curta.

Finalizando Collins apela para ambos os lados do conflito ciência x fé. É hora de uma trégua. Esse conflito, iniciado e mantido por extremistas de ambos o lados, nunca foi de fato necessário. A ciência não é ameaçada por Deus, mas aprimorada. Deus não é ameaçado pela ciência: ele a possibilitou.  “Por isso busquemos juntos recuperar os fundamentos sólidos de uma síntese satisfatória entre a intelectualidade e a espiritualidade de todas as grandes verdades”. O futuro do nosso mundo depende disso.  

No apêndice do livro Collins faz uma discussão sobre os desafios da prática da moral na ciência e na medicina, a Bioética. 


Fui.

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