terça-feira, 26 de julho de 2011

A Queda - Uma Realidade Desconcertante


Não há tema que mais inquiete a minha cabeça do que o conceito teológico da queda.  Admitir que nascemos com uma incapacidade inata que nos prende ao mal é desconcertante. Tento negar. Observo tanta gente boa que cumpre as leis, comporta-se bem, pratica boas ações, usa a honestidade e tem desprendimento.  Não são tais pessoas um sinal inequívoco de que somos bons, apesar de muitos dentre nossa espécie se comportarem mal? Não parece que a maioria das pessoas pratica o bem, têm boa índole, trabalha honesta e sacrificialmente de sol a sol? Quantas histórias comoventes de bondade, doação ao próximo e abnegação nos enternecem e nos encorajam?  Mas, por outro lado, quando vemos o noticiário da TV ou dos jornais, como explicar as barbaridades do dia a dia em nossa sociedade urbana? Como entender que pessoas de todo tipo de formação e classe social, desde os mais carentes até aos que tiveram acesso aos meios mais sofisticados de educação e a bens materiais são de repente flagradas no cometimento de crimes os mais hediondos?  Estupros, molestamentos de crianças, assaltos, assassinatos a sangue frio, brigas de trânsito, agressões a mulheres, etc.  Além dessas coisas mais graves, tudo o que diz respeito às minudências da vida em sociedade. Por que o sujeito joga lixo na rua? Por que estaciona sobre a calçada, fura o semáforo,   dirige embriagado, mija no poste, bota som alto no condomínio, rouba energia elétrica fazendo gato no medidor, buzina no trânsito, vende sem nota fiscal, suborna o guarda de trânsito, desce do ônibus sem pagar, fura a fila do banco, frauda o INSS, frauda os testes escolares e acadêmicos, burla o fisco, frauda cheques, e não tem fim essa lista de ilícitos, crimes e malfazejos?  Mesmo as pessoas de bem, que aparentemente são cheias de bondades, quando examinadas ao micro, apresentam seus defeitos, suas zonas sombrias, seus segredos impublicáveis.  Se fossem revelados todos os segredos da humanidade, escaparia alguém?

Somos pessoas humanas. Temos uma mente que raciocina, que pensa e que toma decisões. Temos imperativos éticos a nos mover. Temos? Por que fazemos mal uns aos outros para tirar vantagem? Que índole é essa?

Há duas cosmovisões em conflito aqui: uma materialista e outra metafísica.   A resposta materialista é  a do naturalismo científico.  Este diz que Deus não existe; que o “eu” dentro de cada um de nós é apenas uma ilusão produzida pela complexa interação bioquímica das moléculas no cérebro com o objetivo de direcionar o nosso corpo à preservação do gene egoísta. Não há sentido no mundo, no universo, na vida em geral e muito menos na vida humana. Tudo vai acabar, pois o próprio universo está destinado à extinção. Bem antes disso, a terra passará e a vida nela será totalmente extinta. Nada vale à pena. A ética, nesse contexto, é apenas um meme criado pelo cérebro evolutivo como um mecanismo de preservação. Matar ou morrer é um detalhe circunstancial no processo evolutivo, isento de culpa em si mesmo.

A resposta metafísica é variada.  Adoto a vertente cristã. Leio na Bíblia palavras do apóstolo Paulo: “o bem que eu desejo eu não faço, porém o mal que abomino esse faço”.  Que lei desagradável essa?  Pergunto o por que dessa condição miserável e encontro na teologia respostas longas e explicações que atordoam e no fundo me deixam ainda mais perturbado. A resposta curta é: a queda, a desobediência originária. Mas, por que, meu Deus, tudo isso não foi concertado desde o começo?  Por que esse processo penoso da Redenção?

Encontro uma  resposta cristã para o meu coração perplexo: a Graça de Jesus. Logo a seguir às palavras do apóstolo citadas acima ele inicia o capítulo 8 de sua carta aos Romanos: “Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.  Quer dizer, apesar do quadro lastimável, a Graça de Jesus alcança o cristão. Há todo um encadeamento teológico para chegar nesse ponto. Não vou discutir isso agora

Resumindo: esperança cristã ou o desespero reducionista?  Expectativa de uma nova ordem depois da morte, ou o niilismo de tudo ser sem sentido e acabar na morte.  Lógico, prefiro a esperança na Graça. Mesmo que ela não liberte meu coração da angústia do presente estado meu e da humanidade. Ainda tenho perguntas sem respostas. Essas respostas irei busca-las depois, quando, nas palavras do apóstolo, verei a Deus face a face e conhecerei como também sou conhecido. 

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