Minhas anotações sobre o livro “A
Linguagem de Deus”, de Francis Collins – Parte X
Continuamos na terceira parte do
livro com o tema: “Fé na ciência, fé em Deus”.
Vamos ao capítulo 9 onde Collins faz sua avaliação sobre o DI – Design
Inteligente.
O DI é um assunto nevrálgico nos
Estados Unidos, onde mais da metade da população o apoia. Em 2005 o próprio
presidente George W. Bush deu seu aval a que fosse ensinado nas escolas
públicas americanas. Não colou. O julgamento de Dover (famoso caso em que esse
ponto foi discutido e chegou à Suprema Corte) foi desfavorável ao DI. Hoje a
comunidade científica americana e mundial tem o DI como um tipo de criacionismo
disfarçado e o considera como pseudociência.
Há um diálogo de surdos.
O que é DI? Collins diz que apesar de
o DI apresentar-se como teoria científica, não nasceu da tradição científica. Os
cientistas não o chamam de teoria pois seria admitir que é ciência.
Consideram-no apenas um movimento de criacionistas na busca de reconhecimento
científico. Collins faz um breve histórico do surgimento do DI há 15 anos (na
verdade há pouco mais de 20 anos agora, já que surgiu em 1991). Credita a fundação do movimento a Philip
Johnson, um advogado cristão da Universidade da Califórnia, em Berkeley. A obra
inaugural do DI teria sido o livro de Johnson “Darwin on Trial” (Darwin em
julgamento). Cita a obra de Michael Behe, “Darwin´s Black Box” (A Caixa Preta
de Darwin) que trouxe o argumento da “complexidade irredutível”. Cita o
matemático William Demsbki como liderança expressiva do movimento.
Pejorativamente os cientistas chamam o DI de “Criacionismo 2.0”. Mas Collins
tenta salvar a pele dos DI-ístas: “De minha perspectiva como geneticista,
biólogo e pessoa que crê em Deus, esse movimento merece sérias reflexões”.
Collins resume as proposições do DI
segundo seu ponto de vista: 1) a evolução gera uma proposta de mundo ateísta e,
portanto, aqueles que creem em Deus devem se opor a ela; 2) a evolução tem
fundamentos falhos pois não pode justificar a complexidade da natureza; e 3) a
complexidade irredutível aponta para um planejador inteligente, necessário para
dar start ao curso da evolução.
Apesar de o DI tomar cuidado para não
apontar qual seria esse planejador Collins acha que os documentos internos do
Instituto Discovery, criado para divulgar o DI, provam tratar-se de um
movimento que visa combater o materialismo e defender uma compreensão teísta da
natureza, com uma vertente cristã, haja vista ser essa a religião de suas
principais figuras. E não está sozinho nesse pensamento: é o que a comunidade
científica oficialmente considera. Collins chega a ironizar o DI como “filho
ilegítimo e rebelde” de Dawkins & Cia Ltda., ou seja, seguiria na mesma
linha fundamentalista, só que em polo oposto.
Para Collins o argumento fundamental
do DI, a complexidade irredutível, de Behe, parece ser apenas o velho relógio
de Paley em linguagem bioquímica, genética e matemática.
Collins elenca as principais objeções
que os darwinistas fazem ao DI, o que, segundo pensa, faz o DI permanecer com
pouca credibilidade científica. Os defensores do DI acham que trata-se apenas
de preconceito, mas para Collins não é bem assim: 1) o DI não consegue
qualificar-se como teoria. Segundo entende o DI não olha para a frente, mas
apenas para trás e leva a ciência a um beco sem saída. Só com uma máquina do
tempo, diz, a teoria do DI poderia ser verificada. 2) o DI não fornece nenhum
mecanismo pelo qual as supostas intervenções sobrenaturais gerariam a
complexidade. Criticando a ideia de Behe, da suposição de um carregamento
prévio de informações genéticas responsável pela complexidade futura dos
organismos primitivos, Collins diz que seria extremamente improvável tal
suposição, de acordo com o conhecimento científico atual. No ponto principal da
tese do Design acredita que a ciência está descartando os exemplos de
complexidade irredutível de Behe com demonstrações de que essa complexidade é
perfeitamente plausível com o processo evolutivo mediante o recrutamento de
mais elementos num processo em cascata, seja para a coagulação do sangue, seja
para o flagelo bacteriano ou para o olho humano, exemplos muito caros ao DI. Collins
chama à cena o argumento preferido dos darwinistas, os tais milhões e milhões
de anos do lentíssimo processo evolutivo, adaptativo, suposição essa que os
evolucionistas consideram inatacável, que justifica e suporta toda a teoria
darwiniana.
Collins cita Darwin, que admitia
francamente que se fosse demonstrado que qualquer órgão complexo pudesse ser
formado sem o processo longo e gradual de sutis modificações a teoria da
evolução seria destruída. Então encerra a questão com a afirmação peremptória
do grande naturalista: “Mas não encontro semelhante caso”. Ponto.
Depois de martelar cientificamente o
DI Collins parte para desconstruí-lo como teologia. Começa com o velho
argumento do “Deus das lacunas”: as lacunas percebidas na evolução e que o ID
pretende preencher com Deus estão sendo preenchidas pelo avanço da ciência. Também,
segundo ele, o Deus Todo-Poderoso é retratado no DI como um “Criador
Trapalhão”, que precisa intervir de tempos em tempos para consertar as
insuficiências de seu próprio projeto original. Não seria essa a melhor imagem
de inteligência que os que tem fé esperam de seu Deus.
Collins diz que é compreensível a
grande aceitação do DI por parte dos evangélicos norte-americanos, mas acredita
ser essa uma resposta direta ao ateísmo militante vinculado à evolução por
parte de “alguns evolucionistas”. Mas, segundo ele, o navio do DI “não se
dirige à terra prometida mas sim ao fundo do mar”.
Assim, apesar de Collins ter dito
que, de sua perspectiva, o movimento do DI merecer sérias reflexões, vemos que todas
as suas reflexões são no sentido de simplesmente descarta-lo como não
científico e teologicamente pobre. Collins mostrou-se totalmente darwinista em
sua crítica ao DI.
Encerrando o capítulo Collins
afirmando que existe uma solução nítida, obrigatória e satisfatória
intelectualmente para a busca da verdade harmonizadora do conflito fé x
ciência. Qual seria? Ele vai dizer no
próximo capítulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário