sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A Linguagem da Vida - Parte X




Minhas anotações sobre o livro “A Linguagem de Deus”, de Francis Collins – Parte X

Continuamos na terceira parte do livro com o tema: “Fé na ciência, fé em Deus”.  Vamos ao capítulo 9 onde Collins faz sua avaliação sobre o DI – Design Inteligente.

O DI é um assunto nevrálgico nos Estados Unidos, onde mais da metade da população o apoia. Em 2005 o próprio presidente George W. Bush deu seu aval a que fosse ensinado nas escolas públicas americanas. Não colou. O julgamento de Dover (famoso caso em que esse ponto foi discutido e chegou à Suprema Corte) foi desfavorável ao DI. Hoje a comunidade científica americana e mundial tem o DI como um tipo de criacionismo disfarçado e o considera como pseudociência.  Há um diálogo de surdos.

O que é DI? Collins diz que apesar de o DI apresentar-se como teoria científica, não nasceu da tradição científica. Os cientistas não o chamam de teoria pois seria admitir que é ciência. Consideram-no apenas um movimento de criacionistas na busca de reconhecimento científico. Collins faz um breve histórico do surgimento do DI há 15 anos (na verdade há pouco mais de 20 anos agora, já que surgiu em 1991).  Credita a fundação do movimento a Philip Johnson, um advogado cristão da Universidade da Califórnia, em Berkeley. A obra inaugural do DI teria sido o livro de Johnson “Darwin on Trial” (Darwin em julgamento). Cita a obra de Michael Behe, “Darwin´s Black Box” (A Caixa Preta de Darwin) que trouxe o argumento da “complexidade irredutível”. Cita o matemático William Demsbki como liderança expressiva do movimento. Pejorativamente os cientistas chamam o DI de “Criacionismo 2.0”. Mas Collins tenta salvar a pele dos DI-ístas: “De minha perspectiva como geneticista, biólogo e pessoa que crê em Deus, esse movimento merece sérias reflexões”.

Collins resume as proposições do DI segundo seu ponto de vista: 1) a evolução gera uma proposta de mundo ateísta e, portanto, aqueles que creem em Deus devem se opor a ela; 2) a evolução tem fundamentos falhos pois não pode justificar a complexidade da natureza; e 3) a complexidade irredutível aponta para um planejador inteligente, necessário para dar start ao curso da evolução. 

Apesar de o DI tomar cuidado para não apontar qual seria esse planejador Collins acha que os documentos internos do Instituto Discovery, criado para divulgar o DI, provam tratar-se de um movimento que visa combater o materialismo e defender uma compreensão teísta da natureza, com uma vertente cristã, haja vista ser essa a religião de suas principais figuras. E não está sozinho nesse pensamento: é o que a comunidade científica oficialmente considera. Collins chega a ironizar o DI como “filho ilegítimo e rebelde” de Dawkins & Cia Ltda., ou seja, seguiria na mesma linha fundamentalista, só que em polo oposto.   

Para Collins o argumento fundamental do DI, a complexidade irredutível, de Behe, parece ser apenas o velho relógio de Paley em linguagem bioquímica, genética e matemática.

Collins elenca as principais objeções que os darwinistas fazem ao DI, o que, segundo pensa, faz o DI permanecer com pouca credibilidade científica. Os defensores do DI acham que trata-se apenas de preconceito, mas para Collins não é bem assim: 1) o DI não consegue qualificar-se como teoria. Segundo entende o DI não olha para a frente, mas apenas para trás e leva a ciência a um beco sem saída. Só com uma máquina do tempo, diz, a teoria do DI poderia ser verificada. 2) o DI não fornece nenhum mecanismo pelo qual as supostas intervenções sobrenaturais gerariam a complexidade. Criticando a ideia de Behe, da suposição de um carregamento prévio de informações genéticas responsável pela complexidade futura dos organismos primitivos, Collins diz que seria extremamente improvável tal suposição, de acordo com o conhecimento científico atual. No ponto principal da tese do Design acredita que a ciência está descartando os exemplos de complexidade irredutível de Behe com demonstrações de que essa complexidade é perfeitamente plausível com o processo evolutivo mediante o recrutamento de mais elementos num processo em cascata, seja para a coagulação do sangue, seja para o flagelo bacteriano ou para o olho humano, exemplos muito caros ao DI. Collins chama à cena o argumento preferido dos darwinistas, os tais milhões e milhões de anos do lentíssimo processo evolutivo, adaptativo, suposição essa que os evolucionistas consideram inatacável, que justifica e suporta toda a teoria darwiniana.

Collins cita Darwin, que admitia francamente que se fosse demonstrado que qualquer órgão complexo pudesse ser formado sem o processo longo e gradual de sutis modificações a teoria da evolução seria destruída. Então encerra a questão com a afirmação peremptória do grande naturalista: “Mas não encontro semelhante caso”.  Ponto.

Depois de martelar cientificamente o DI Collins parte para desconstruí-lo como teologia. Começa com o velho argumento do “Deus das lacunas”: as lacunas percebidas na evolução e que o ID pretende preencher com Deus estão sendo preenchidas pelo avanço da ciência. Também, segundo ele, o Deus Todo-Poderoso é retratado no DI como um “Criador Trapalhão”, que precisa intervir de tempos em tempos para consertar as insuficiências de seu próprio projeto original. Não seria essa a melhor imagem de inteligência que os que tem fé esperam de seu Deus.

Collins diz que é compreensível a grande aceitação do DI por parte dos evangélicos norte-americanos, mas acredita ser essa uma resposta direta ao ateísmo militante vinculado à evolução por parte de “alguns evolucionistas”. Mas, segundo ele, o navio do DI “não se dirige à terra prometida mas sim ao fundo do mar”.

Assim, apesar de Collins ter dito que, de sua perspectiva, o movimento do DI merecer sérias reflexões, vemos que todas as suas reflexões são no sentido de simplesmente descarta-lo como não científico e teologicamente pobre. Collins mostrou-se totalmente darwinista em sua crítica ao DI.


Encerrando o capítulo Collins afirmando que existe uma solução nítida, obrigatória e satisfatória intelectualmente para a busca da verdade harmonizadora do conflito fé x ciência. Qual seria?  Ele vai dizer no próximo capítulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário