Acabo de ler um texto do Pastor Ricardo Barbosa, pastor
da Igreja Presbiteriana do Planalto em Brasília. Pastor Ricardo é um velho
conhecido. Tive o privilégio de privar
com ele quando, nos anos 90, engenheiro da CEMAR, constantemente viajava a
serviço para trabalhar no planejamento do sistema integrado de energia elétrica
nos escritórios técnicos da Eletronorte. Por vezes ficava meses na capital
federal e então, como meu cunhado Wesley Bandeira era presbítero naquela igreja,
frequentava-a sempre que estava por lá.
Foi nessa comunidade que vi pela primeira vez a inovação no louvor comunitário
ser feita com maestria, excelência e capricho. Não se usavam os tais datashows
de hoje. Eram caríssimos. Usavam um retroprojetor – quem se lembra? Os cânticos
impressos em “transparências” eram primorosamente encartados em cartolina-guache.
Havia um pequeno mecanismo artesanal para
abrir e fechar o foco da luz do retroprojetor nas horas certas. Uma pessoa
cuidava com o maior capricho do “acervo”. Havia uma lista classificada por
ordem alfabética, os cartões eram numerados e arquivados num pequeno arquivo de
metal pintado de preto. No palco um grupo de músicos amadores afinadíssimo e
bem ensaiado. As canções selecionadas a dedo, a bateria tocada no ponto certo
para marcar e conduzir, sem fazer zoada. Tudo era maravilhoso e culminava com a
pregação ungida, inspiradora e vívida do Pastor Ricardo. Tentei implantar esse modelo de louvor na IPSL:
comprei o mini arquivo metálico preto, preparei a primeira centena de
transparências encartadas, preparei a lista de cânticos, treinei o pessoal...
porém nunca funcionou no mesmo padrão da IP Planalto. Mas essa é outra
história.
Também na IP Planalto conheci algumas pessoas com vida e
influência espiritual marcante. Além do meu cunhado Wesley, que sempre viveu intensamente
a vida cristã desde a juventude, convivi com Rubem Amorese, o Miranda, dona
Guiomar. (Também conheci a Delis Ortis, sim, aquela “da Grobo”, que congregava
lá). O contato com essa turma deixou
marcas até hoje. A influência de gente assim marca mesmo. E foi movido pelo desejo de transmitir esse
impacto que promovi a vinda deles a São Luís em momentos distintos. Primeiro o
Pastor Ricardo veio uma vez para pregar num dos aniversários de nossa IPSL, não
lembro mais o ano, mas foi por volta de 1999. Depois vieram para ser preletores
de nossos memoráveis Retiros, primeiro Rubem, depois o Miranda, que era liderança da ABU, e por
fim Dona Guiomar, uma senhora de seus 50 e poucos anos, cheia de carisma e de palavra
inspiradora. Infelizmente
nosso contato com essa turma da IP Planalto acabou. Nem sei se o Pastor Ricardo
lembra de mim. Rubem Amorese teve dificuldade de lembrar na última vez que
conversamos. Dos demais não tive mais notícias.
Voltemos ao início. O Pastor Ricardo, anos depois,
especializou-se em estudar o fenômeno da espiritualidade. Escreveu vários livros
e ministrou inúmeros cursos e palestras, tornou-se uma referência do
evangelicalismo brasileiro no assunto. Talvez por isso, no texto a que me referi no início,
o Pr. Ricardo destaque da conversa com John Stot (falecido em 2011) quando este
esteve no Brasil em 1989, justamente o tema da espiritualidade, e neste o “feijão-com-arroz”
da vida cristã. Quando perguntaram a Stot qual o segredo de seu longo e
frutífero ministério ele respondeu simplesmente: “Leio a Bíblia e oro todos os
dias, vou à igreja todos os domingos e nunca falto à celebração da Eucaristia”.
Ricardo fica radiante, como quem encontra um atestado abalizado para uma tese
que defende há muito e não encontra adesão ou não a devida importância. Como
numa doce e santa “vingança” Ricardo chama James Houston e A. W. Tozer para juntar-se
a ele na defesa dessa prática cristã básica, sempre tão negligenciada diante de
tantas ofertas supérfluas de espiritualidade litúrgica fora do quarto, da vida,
do dia e da noite. “As práticas
devocionais fazem parte do processo formativo da alma diante de Deus.”, fecha
Ricardo. Orar e ler a bíblia diariamente, frequentar a comunidade cristã,
participar da Ceia. Simples assim. Por que não fazemos?
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