Os crentes evangélicos, outrora "protestantes", ficaram divididos. Algumas lideranças pensantes, formadoras de opinião, manifestaram-se contrárias. A maioria, contudo, mostrou-se ambígua, apoiando a participação dos crentes, mas com tantas restrições e senões que, na prática, geraram insegurança e inviabilizaram a participação.
A IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil) publicou uma posição em seu site, assinada por um de seus melhores teólogos. A partir do título já se anunciava a intensão desmobilizadora: "Sobre os Tumultos".
A íntegra está aqui: http://ipb.org.br/application/index/articleReader/115427
Fiz um resumo comentado, segundo meu ponto de vista, obviamente:
O texto começa com um versículo pinçado de Provérbios:
"Os homens escarnecedores alvoroçam a cidade, mas os sábios desviam
a ira." (Pv 29.8 ). Já de início o tom de crítica é ironicamente colocado.
O
autor começa se auto-desqualificando para uma análise político-social (mundo),
mas está pronto para uma análise cristã-reformada (igreja). Parece justo, não? Afinal, é um
teólogo!
Depois
argumenta, citando as Escrituras, que supostamente Deus estaria rindo de tudo
isso... “Que povinho besta, pensando que pode frustrar meus propósitos para com
as nações! O governo está em minhas mãos, hehehe...”
Em
seguida afirma que manifestações populares e seus tumultos foram usadas pelos
inimigos para tentar destruir Cristo desde a igreja primitiva no passado - a
turba pediu a crucificação de Cristo... a turba se levantou contra Paulo em
Icônio, Derbe, Listra e Éfeso, etc, até, enfim, ser preso em Roma. Em tudo
isso, porém, estavam apenas cumprindo o propósito de Deus. A mesma coisa ocorreria
hoje, pois esse povo baderneiro pensa que está fazendo alguma coisa autônoma,
quando na verdade está apenas cumprindo um propósito maior de Deus que é “promover a sua
glória e o bem do seu povo”. Pode até haver motivos justos para estas
manifestações, diz o autor, porém tais motivos estão misturados com motivações obscuras e
impuras, já que são decaídos, pecadores todos esses manifestantes.
Afirma ainda que Deus por vezes usa as autoridades para reprimir e castigar os baderneiros. (As
agressões gratuitas contra inocentes, eventualmente cometidas, decerto, não
podem ser colocadas na conta do Altíssimo, não é mesmo? Ou se forem, é bem
feito, pois quem manda misturar-se a essa turba de baderneiros?)
Por
fim, não poderia faltar, a clássica referência a Romanos 13, - as autoridades são
ministros de Deus para proteger os bons, castigar os maus e promover o bem, etc., etc... (apelo à insegurança para desestimular qualquer reação dos crentes
contra as injustiças pelo risco de estarem se opondo às autoridades constituídas
por Deus e merecedoras apenas de temor, respeito e impostos. A única desobediência
civil justificável parece dar-se quando o Estado fere a teologia).
Agora as conclusões práticas recomendadas pelo autor.
- Devemos lembrar que Deus sempre reverteu o propósito maligno dos tumultos das massas em favor do seu povo. (Será uma sugestão? Então não seria melhor ficarmos em casa, tranquilos, que no final, sairemos ganhando?).
- A participação dos cristãos em manifestações públicas só são válidas se forem ordeiras e pacificas, sem tumultos, visando o bem da sociedade e não somente os privilégios dos crentes e evangélicos. (Como os protestos serão sempre imperfeitos, só nos restaria reeditar a marcha da Tradição, Família e Propriedade, e olhe lá!).
- Estas manifestações são civis, expressões sociais e não um culto! (ah, tá! Uma dicotomiazinha básica, não fará mal de vez em quando!).
- Por exemplo, ao protestarmos contra a aprovação da lei da homofobia devemos fazê-lo essencialmente porque se trata de uma violação da Constituição que garante a todos – e não somente aos crentes – o direito de consciência e de expressão (o direito dos homossexuais serem o que são, nem pensar! É pecado, portanto tem que ser legalmente proibido!).
- A igreja tem mais é que pregar o Evangelho de Cristo, chamando governantes e governados ao arrependimento de seus pecados e conversão, pela fé, a Jesus Cristo. (Pacto de Lausanne, passou longe!)
- Não somente isto, pelo procedimento e pelo exemplo os cristãos se tornam
sal e luz do mundo, quando suas obras de amor, arrependimento e fé são vistas
pelos incrédulos. (Somente bons cristãos, maduros e crescidos espiritualmente podem protestar. Crentes carnais, nem pensar!).
Excelente tradução do ascético teologuês. Parabéns, Faustino, pela lucidez e pela coragem. O discurso do Rev. Nicodemus resvala ao sofisma. O murismo como sempre é a alternativa. Fiquemos recolhidos aos arraiais à espera dos resultados, de que nos beneficiaremos depois. Nada de referência à pregação dos profetas contra as injustiças praticadas pelas autoridades constituídas do seu tempo, os próprios reis de Israel.
ResponderExcluirFaustino, peço a tua autorização para replicar teu post, como sempre, lúcido, incisivo e perspicaz!
ResponderExcluirSem problemas. Tranquilo, meu irmão.
Excluirmuito boa tua análise sobre o texto do teólogo presbiteriano! Parabéns
ResponderExcluirJá pensou? Que orientação precisa de um líder da igreja!!! kkkk... Melhor seria que o Rev. Nicodemus ficasse quietinho em frente à sua TV 3D vendo a turba turbinar o Brasil.
ResponderExcluirAliás, "turba" vem do latim "turbae", uma mistura de "turbulência" e "cidade"(urb). Os imperadores romanos a temiam mais que qualquer coisa. Tinham estratégias específicas para lidar com ela. Até uma tropa de choque de elite: a guarda pretoriana.
A política de pão e circo, servia bem ao propósito de acalmar a turba (nem sempre). Sabiam que os padeiros em Roma eram subsidiados pelo Estado? Imaginem... eram um braço político do imperador para literalmente distribuir pão quando as coisas apertavam. E lá também de a Copa do Mundo Romano, formada pelas seleções das escolas de gladiadores na "Arena Coliseum".
Mas, Reverendo, pinçar textos aleatórios e atribuir significados na base do achismo e interesses do momento não é seu papel como autoridade papal da IPB,não é mesmo?
E olha... meu lugar de culto não é o templo erguido por mãos humanas, não... é a minha vida. Na turba ou fora dela.
"NÃO AO PLEBISCITO DE DILMA!" Não foi isso que pedimos nas ruas.