segunda-feira, 25 de junho de 2012

Fé e dúvida




Uma das coisas que aprendi durante minha vida cristã foi a perder o medo da dúvida. Antigamente as dúvidas rondavam, espreitando e ameaçando a minha fé. Parecia a mim e a tantos com os quais eu convivia que ter dúvidas sobre a mensagem cristã, Jesus, Deus e tudo mais seria, tipo assim, um grande pecado. Ainda bem que isso passou. Com o tempo, o estudo bíblico, as experiências e a experiência fui percebendo a importância da dúvida. Ela é o campo onde brota a plantinha da fé.

Vejo essa imagem na parábola do semeador (onde as sementes da fé são lançadas em diversos tipos de terrenos) e também na comparação que Jesus fez da fé como um grão de mostarda.  Encontrei ainda um fato mui precioso no ensino paulino em sua carta aos Romanos: “Esperança que se vê não é esperança, por que o que alguém vê, como o espera? Mas se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos”.  Esse ensino corrobora o de Cristo quando falou aos seus discípulos, “bem-aventurados os que não viram e creram”. E o apóstolo Paulo volta a referir-se ao ponto quando diz aos Coríntios “Hoje vemos como através de um vidro embaçado, então veremos face-a-face”.  

De que fala esse  ensino? Simples: quem vê não tem fé, por que viu. Portanto, fé requer a dúvida. Ou seja, sem dúvida, não existe fé e sim certeza. É, pois, por meio dessa fé que não vê que devemos expressar a nossa convicção de certeza, como pontua o autor da carta aos Hebreus: “Fé é a certeza das coisas que se esperam e a convicção de fatos que se não veem” – na lógica humana, um contrassenso.   Passei então a respeitar e valorizar as minhas dúvidas pois elas são o terreno onde brota a minha fé. A partir dessa compreensão a dúvida passou a ser a aliada da minha fé. 

Como fez Jó, personagem bíblico símbolo de provação no sofrimento, ao expressar sua esperança, em meio a profundo conflito e tragédia pessoal, afirmou: “Eu sei que meu Redentor vive e que por fim se levantará sobre a terra”.  Esse “eu sei” que não se sabe é simplesmente fé e só se afirma contra a evidência. Assim fortaleço a minha fé e a realço com o contraponto da dúvida, como fecha o ensino apostólico: “Olhando firmemente para Jesus, o autor e consumador da nossa fé”.  Melhor assim, não?





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