Uma
das coisas que aprendi durante minha vida cristã foi a perder o medo da dúvida.
Antigamente as dúvidas rondavam, espreitando e ameaçando a minha fé. Parecia a
mim e a tantos com os quais eu convivia que ter dúvidas sobre a mensagem cristã,
Jesus, Deus e tudo mais seria, tipo assim, um grande pecado. Ainda bem que isso
passou. Com o tempo, o estudo bíblico, as experiências e a experiência fui
percebendo a importância da dúvida. Ela é o campo onde brota a plantinha da fé.
Vejo essa imagem na parábola do semeador (onde as sementes da fé são lançadas
em diversos tipos de terrenos) e também na comparação que Jesus fez da fé como
um grão de mostarda. Encontrei ainda um
fato mui precioso no ensino paulino em sua carta aos Romanos: “Esperança que se
vê não é esperança, por que o que alguém vê, como o espera? Mas se esperamos o
que não vemos, com paciência o aguardamos”. Esse ensino corrobora o de Cristo quando falou
aos seus discípulos, “bem-aventurados os que não viram e creram”. E o apóstolo
Paulo volta a referir-se ao ponto quando diz aos Coríntios “Hoje vemos como
através de um vidro embaçado, então veremos face-a-face”.
De que fala esse ensino? Simples: quem vê não tem fé, por que
viu. Portanto, fé requer a dúvida. Ou seja, sem dúvida, não existe fé e sim
certeza. É, pois, por meio dessa fé que não vê que devemos expressar a nossa
convicção de certeza, como pontua o autor da carta aos Hebreus: “Fé é a certeza
das coisas que se esperam e a convicção de fatos que se não veem” – na lógica
humana, um contrassenso. Passei então a
respeitar e valorizar as minhas dúvidas pois elas são o terreno onde brota a
minha fé. A partir dessa compreensão a dúvida passou a ser a aliada da minha
fé.
Como fez Jó, personagem bíblico símbolo de provação no sofrimento, ao
expressar sua esperança, em meio a profundo conflito e tragédia pessoal, afirmou: “Eu
sei que meu Redentor vive e que por fim se levantará sobre a terra”. Esse “eu sei” que não se sabe é simplesmente
fé e só se afirma contra a evidência. Assim fortaleço a minha fé e a realço com
o contraponto da dúvida, como fecha o ensino apostólico: “Olhando firmemente
para Jesus, o autor e consumador da nossa fé”.
Melhor assim, não?
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