Emana do peito do poeta e salta como que sem pela boca.
Transcende e sobrepuja os tristes séculos desde as vésperas da varonil-proclamação.
Esta a da República brasileira, est´outra a da ânsia humana por respostas. Sim, dos átrios merencórios, dos pulmonares brônquios,
engajados todos os mais periféricos alvéolos, chamados à causa de um grito. É de
Castro Alves, em Vozes d'África, publicado
em Abril de 1869, esse que ecoa e ainda ecoará sabe-se lá até quando: “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?”.
É a mão e a pena que capturam no ar e imortalizam no papel para que não se
perca, para que congele, paralise e se mantenha, para que nós também o ecoemos
hoje e que outros o façam amanhã.
Deus! ó Deus! onde
estás que não respondes?
Em que mundo, em
qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te
mandei meu grito,
Que embalde desde
então corre o infinito...
Onde estás, Senhor
Deus?...
O poema é longo e plangente, e vai, descrevendo a
lancinante condição do africano continente, de seu povo infeliz, escravizado. O poeta como que re-clama o que clamara um
ano antes, quando em junho de 1868, irmana seu próprio coração à negra dor dos
desgrenhados nos porões escuros a cruzar mares em rumo de desgraças bem
maiores, Navio Negreiro:
Senhor Deus dos
desgraçados!
Dizei-me vós,
Senhor Deus!
Se é loucura... se
é verdade
Tanto horror
perante os céus?!
Por que Deus não responde a nossas orações? Ou, por que,
quando responde, responde muito poucas delas, quase nada? Qual a resposta a essa inquietante pergunta
que não quer calar no peito de um cristão decente, de um poeta angustiado, de
outro qualquer talvez nem mesmo crente? Para tentar responde-la propus num post
anterior outra pergunta: Se Deus respondesse a todas as nossas orações o que
aconteceria? Para melhor raciocinar, retire-se desse “todas” os nossos eventuais
caprichos, leviandades e mesquinharias. Fiquemos com aquelas que nossa cartesiana
lógica impõe, nada menos do que necessárias, nada mais do que justas. Se Deus
respondesse a todas as nossas orações onde pedimos cura, livramento e
libertação e justiça? Encontrar alguma resposta a essa outra indagação pode
lançar um pouco de luz sobre a primeira. Quer tentar?
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