sábado, 28 de setembro de 2013

A Linguagem de Deus - Parte VIII



Minhas anotações sobre o livro “A Linguagem de Deus”, de Francis Collins – Parte VIII






Passaremos à terceira, última e mais longa parte do livro. Tema: “Fé na ciência, fé em Deus”.  São seis capítulos, do 6º ao 11º, mais um apêndice, num total de 125 páginas.  

No capítulo 6 o autor aponta o grande fosso que persiste entre as convicções da academia sobre a evolução e as desconfianças por parte da sociedade comum, sob o domínio de convicções religiosas. Examina quais seriam os motivos para tanta desconfiança. O relógio de Paley? (acho que teria sido melhor Paley ter suposto uma bússola apontando para o Criador com sua agulha teimosa, em vez de um relógio!).  O apelo a inimagináveis bilhões e bilhões de anos para o processo evolutivo acontecer? A Lei Moral? O que de fato diz o Gênesis? É um relato ou são dois? Os dois relatos são harmônicos? São precisos? São literais ou alegóricos? 

Mesmo antes de Darwin nunca houve um consenso teológico sobre o assunto. Há mais de dezesseis séculos Santo Agostinho já questionava a literalidade do relato da criação: “Que tipo de dias eram aqueles, para nós é extremamente difícil ou talvez impossível, conceber”. Vinte e cinco séculos de debates não limparam o cenário. Veio a ciência a piorá-lo? Estaria Deus ameaçado pela ciência? 

Collins relembra o conflito entre Galileu e à Igreja de seu tempo e lamenta que o atual conflito entre evolução e fé vem demonstrando ser muito mais ácido e difícil do que aquele antigo debate sobre a terra girar em torno do sol. Mais de 150 anos depois de Darwin a controvérsia persiste viva e mostra-se insuperável. Falta bom senso? Nossa inteligência está ameaçando a Deus?

Nos capítulos 7 a 10 Collins passa então a expor as alternativas para a interação entre a fé e a ciência diante da teoria da evolução, que são: alternativa 1: ateísmo e agnosticismo; 2-Criacionismo; 3-Design Inteligente e 4-BioLogos (Evolução Teísta).

Vamos lá:

Capítulo 7 - ateísmo e agnosticismo.  É quando a ciência supera a fé. Collins faz um resumo histórico do recrudescimento do ateísmo, desde que Madalyn O´Hair processou a NASA por permitir que astronautas, servidores públicos, fizessem uma oração pública no espaço à bordo da Apolo 8, no natal de 1968, à custa dos contribuintes americanos! 

Mas Madalyn O´Hair era apenas uma ativista secular. A vanguarda  ateísta hoje está com os evolucionistas! Dawkins, Dennett & Cia Ltda.  decretaram a morte de Deus. Para eles um verdadeiro evolucionista terá que ser também ateu, sob pena deslealdade intelectual.   

Collins faz um breve resumo histórico do ateísmo e de seu desenvolvimento, passando pelo o iluminismo até chegar ao ateísmo militante caracterizado em Dawkins. Analisa os argumentos de Dawkins um por um: a evolução explica toda a complexidade da vida, não há mais necessidade de deus algum; a religião é anti-racional pois se baseia em confiança cega, na ausência de evidências; a religião já causou e ainda causa muitos males à humanidade, portanto deve ser combatida e eliminada; e, a mais importante, a evolução obriga ao ateísmo. 

Collins também fala sobre o agnosticismo. O termo foi cunhado em 1869 pelo cientista britânico Thomas Huxley, conhecido como “o buldogue de Darwin”. Diz que Deus não pode ser nem provado nem “desprovado”. Portanto, o agnóstico não se posiciona. Ignora o tema. É a fuga do conflito,  uma posição mais cômoda. Pelo menos mais defensável do que a do ateísmo, que não pode provar que Deus não existe. Entretanto, diz Collins, agnosticismo pode se apenas indecisão.

Paramos aqui. Cenas dos próximos capítulos...

A Linguagem da Vida - Parte VII



Minhas anotações sobre o livro “A Linguagem de Deus”, de Francis Collins – Parte VII




Continuando na segunda parte do livro, com o tema geral “As Grandes Questões da Existência Humana”, chegamos ao capítulo 5, que tem por subtema “Decifrando o manual de instruções de Deus – As lições do genoma humano”. 

Esse é o capítulo mais longo e técnico do livro. Mas a linguagem é leve e acessível e o estilo simples e direto torna a leitura gostosa e empolgante. O genoma é a estrutura mais complexa da biologia. No início dos anos 80 pesquisar um erro de apenas uma letra numa sequencia do DNA era um trabalho muito difícil, cansativo, demorado e caro. Pouco se sabia sobre os três bilhões de pares de bases da dupla hélice do DNA ou sobre os genes – os trechos de tamanhos variados dessa hélice que formam uma informação, ou seja, uma instrução específica. Nem mesmo se sabia ao certo quantos genes ao todo compunham o genoma humano. Decifrar esse enigma passou a ser o principal objetivo da pesquisa genética. Muitas doenças genéticas penosas e fatais, como a Fibrose Cística (FC), são causadas por alguma troca de letras em algum ponto da longa escadaria do DNA.  

No início do livro Collins já falara um pouco da grandeza do DNA. Diz que se lêssemos as três bilhões de letras uma letra por segundo levaríamos 31 anos, dia e noite, ininterruptamente, para concluir a tarefa. Eu fiz um cálculo: se ao invés de ler, escrevêssemos numa folha de papel A4 todas as letras, depois dos 31 anos teríamos uma pilha de papel com 50 andares de altura! Acompanhe o cálculo: Fiquemos com "apenas" 3 bilhões de letras (são mais). Escrevendo 2000 letras por folha (por alto) daria 1,5 milhões de folhas, ou 3 mil resmas (cada resma 500 folhas). Como cada resma tem 5 cm, ergueríamos uma pilha de papel de 150 metros, ou 50 andares (3 metros por andar em média)! E toda essa informação está presente em cada uma das 10 trilhões de células num humano adulto. Publiquei isso no meu mural do Facebook e acrescentei:  “Acredite quem quiser que tudo isso foi guiado pelas forças cegas da sobrevivência, sem nenhum propósito ou projeto, pelos replicadores cegos e egoístas”.  Mas o pior, é que errei no cálculo! São 3 bilhões de PARES de letras; sendo assim, são 6 BILHÕES de letras. Então a nossa torre de resmas de papel atingiria 100 andares!

Tudo no gene é grandioso. Chegar ao gene causador da FC, por exemplo, é uma das experiências relatadas por Collins neste capítulo. Esse gene foi identificado em 1989, depois de 10 anos do trabalho incansável de mais de duas dúzias de equipes de cientistas espalhadas pelo mundo, ao custo de mais de 50 milhões de dólares. E isso para identificar esse único gene causador de uma única enfermidade – uma das mais fáceis pois causada por um único gene defeituoso. Há enfermidades poligênicas que poderão levar décadas para serem decifradas.  Quando o projeto genoma surgiu no cenário, o desafio de a humanidade de sequenciar o DNA, fosse a que custo fosse e levasse o tempo que fosse, Collins deduziu de pronto que jamais essa tarefa seria cumprida no curso de sua existência. Pra nossa sorte e pra sua felicidade, foi. Mas não todo. Ainda falta muito, mas muito mesmo. Nas palavras do próprio Collins em uma de suas entrevistas, estamos chegando apenas ao fim do começo. O anúncio feito com grande estardalhaço na Casa Branca em junho/2000 não era nem mesmo esse fim-de-começo, pois ali ainda era anunciado apenas, como disse Collins, “um primeiro enredo”.  

São muitos detalhe e aventuras emocionantes narradas no capítulo. Não é possível aprofundar mais num resumo como este. Deixo para a leitura direta.


A porta foi destrancada. Falta abrir e entrar no quarto. Apesar do tom triunfalista e otimista de Collins, muitas questões estão em jogo e põem em risco as aplicações desses conhecimentos em prol do bem da humanidade. É sempre assim na ciência e em tudo o que o homem faz. Talvez isso esteja em nosso DNA :). Interesses econômicos, vaidades e disputas, implicações sociais, explorações de toda ordem, reducionismos, preciosismos e presunções, e principalmente questões éticas, como, por exemplo, implicações eugênicas. Com certeza são desafios muito maiores para a humanidade em vista do que será possível fazer com todo esse fantástico conhecimento genético. É como o poder de uma bomba atômica. O que a humanidade conseguirá fazer com tudo isso, para o seu bem ou para o seu mal?  




sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Linguagem de Deus - Parte VI

Minhas anotações sobre o livro “A Linguagem de Deus”, de Francis Collins – Parte VI









Continuando na segunda parte do livro, com o tema geral “As Grandes Questões da Existência Humana”, chegamos ao capítulo 4, que tem por subtema “A origem da vida na terra”. 

O autor começa com a afirmação de que os avanços da ciência na era moderna afetaram alguns motivos tradicionais para se crer em Deus. O mais importante deles foi o argumento da complexidade da vida na terra, que sempre teve grande peso para os teístas como indício de desígnio, e, por consequência, de um planejador. Traz de novo à cena um dos nomes mais recorrentes quando se fala em desígnio: William Paley (filósofo moral e pastor anglicano) e sua Teologia Natural, de 1802, com o seu relógio encontrado no mato que exige a existência de um relojoeiro. (Lembro aqui que Richard Dawkins ironizou essa imagem de Paley no título de um de seus mais famosos livros sobre evolução e seleção natural: “O Relojoeiro Cego”). Collins cita, corretamente, que o próprio Darwin, antes da viagem no Beagle, era fã de Paley e lhe dava crédito. Mas tudo mudou depois de “A Origem das Espécies”, publicado em 1859.  

Collins, seguindo os passos de Darwin,  alinha-se aos materialistas ao negar maior valor à complexidade da vida como indício de desígnio.  E recomenda aos cristãos não temer que a ciência venha a destronar Deus pois se ele existe e é todo poderoso não pode ser ameaçado pela ciência (um bom argumento, com certeza). Segue falando sobre as teorias da origem da vida na terra, mas fecha com a conclusão já bem conhecida por todos: apesar de todas as pesquisas, teorias e experimentos, a origem da vida ainda é um mistério.   Mas uma vez volta ao argumento da cautela, pois não é necessário  lançar à conta de Deus mistérios que a ciência algum dia poderá resolver (argumento também conhecido como “o Deus das lacunas”).

Sobre o registro fóssil, depois de um breve resumo, Collins mais uma vez alinha-se aos evolucionistas ao afirmar que, apesar das imperfeições e falhas, praticamente todos os achados são coerentes com o conceito de uma árvore da vida e que há evidências de transição de espécies de répteis para aves e de répteis para mamíferos.

Então, nesse ponto, passa a tratar da questão nevrálgica: as ideias evolucionárias de Darwin. Fala da viagem no navio HMS Beagle e toda aquela história já bem conhecida. Apresenta um resumo da teoria, também já de domínio do público em geral: todas as espécies descenderiam de uns poucos ancestrais, talvez de um único; que a variação das espécies ocorre de modo aleatório; que a sobrevivência ou a extinção de espécies é uma resposta adaptativa ao ambiente e que a seleção natural é o agente de todo esse processo. Fala sobre os profundos impactos e embates teóricos e teológicos originados desde então. Fala das ambíguas posições religiosas de Darwin depois da publicação de “A Origem”, que são também já bastante conhecidas do público:  Darwin, no final do livro, credita ao Criador os primeiros  ancestrais ou possivelmente o único, originador da árvore da vida. Em alguns momentos se diz agnóstico e em outros teísta.  Finalizando Collins fecha totalmente com o evolucionismo darwiniano ao afirmar que nenhum biólogo sério duvida que a teoria da evolução explique a complexidade e a diversidade da vida.  “Fica difícil imaginar como seria possível estudar a vida sem essa base”.  Mas reconhece essa como a questão mais conflituosa da ciência diante da perspectiva religiosa, notadamente nos Estados Unidos, e não vê sinais de que chegará ao fim.

Para finalizar o capítulo Collins chama o tema da genética. A teoria da evolução fora uma das ideias mais visionárias de seu tempo pois não dispunha de um mecanismo físico que a explicasse. A genética veio tempos depois para oferecer esse mecanismo. Embora Mendel, o famoso criador da genética, tenha sido contemporâneo de Darwin, eles nunca se conheceram. E também as suas ideias  ficaram esquecidas até a virada do século XX. A genética mendeliana começou a fornecer as primeiras bases para o mecanismo evolutivo. Mas somente com a descoberta de que o DNA transportava informações, feita por Watson e Crick em 1953 (faltavam 3 anos para eu nascer, hehe...) a verdadeira revolução começou na biologia. Então Collins fala de sua estupefação diante do DNA e segue por algumas páginas com um resumo explicativo do que é, como funciona e fala dos principais conceitos e funções ligados a essa maravilhosa estrutura, cujo estudo levou à criação de um campo de conhecimentos completamente novo na ciência, a Biologia Molecular.  Collins diz que o DNA pode ser desconcertante para os que adotam o argumento do “plano” como apontamento para Deus. Mas diz que para si “não há uma só partícula de decepção ou desilusão nessas descobertas”. Acredita que o fato de a evolução ser real nada diz sobre a natureza de Deus como seu criador. “Para quem acredita em Deus, agora existem motivos para ter mais fé e não menos”, conclui.

Subam as letrinhas...   fim de programa. Até o próximo post.

A Linguagem da Vida - Parte V

 Minhas anotações sobre o livro “A Linguagem de Deus”, de Francis Collins – Parte V











Começamos aqui a comentar a segunda parte do livro, que tem por tema: As Grandes Questões da Existência Humana

Capítulo 3 - As origens do Universo

Collins abre  a segunda parte do livro com esta citação: “Duas coisas me enchem de admiração e estarrecimento crescentes e constantes, quanto mais tempo e mais sinceramente reflito sobre elas: os céus estrelados lá fora e a Lei Moral aqui dentro”, de Immanuel Kant. 

Essa admiração pasmada seria apenas uma infantilidade?

Collins fala do método científico e de como ele é dinâmico e auto corrigido, de maneira que falhas e erros são suplantados por novas investigações e percepções ao longo dos séculos. Diz que os últimos cem anos foram profícuos em revisões científicas, com o surgimento de novíssimos conceitos do mundo subatômico, da física das partículas, da relatividade e da biologia celular, da química e de muitos outros campos.  Não há razão para não confiar na ciência. O conflito da Igreja envolvendo Copérnico/Kepler/Galileu foi ilustrativo de quanto mal pode causar a ambos a oposição entre os campos da ciência e da fé. 

Collins deslumbra-se com a elegância da matemática nas leis físicas. Cita Stephen Hawkins na sua expectativa de uma teoria do tudo que enfim representaria o triunfo final da razão humana: conhecer a mente de Deus. É nesse ponto que faz um link com o título de sua obra e pergunta retoricamente: seria a matemática, junto com o DNA, uma outra linguagem de Deus?   

Collins faz então um breve relato sobre o Big-Bang. Mas o que teria vindo antes? “O Big-Bang  grita por uma explicação divina”. Diz que essa é uma questão jamais respondida pela ciência e sem perspectivas de que o seja no futuro. Em seguida fala sobre a formação do nosso sistema solar e do planeta Terra. Expõe a admiração geral dos cientistas diante das 15 constantes físicas para as quais a ciência não tem nenhuma explicação, de cuja exatidão e imutabilidade depende a vida do homem na terra. Qualquer alteração, por menor que seja, no valor qualquer dessas constantes inviabilizaria o universo como o conhecemos hoje. Isso é chamado de Princípio Antrópico, que diz que nosso universo está exclusivamente ajustado para a vida humana.  Fala das três principais alternativas de explicação para esse princípio, (1-multiversos; 2-sorte, muita sorte mesmo e 3-Deus) mas ressalta que esse parece ser um tema essencialmente teológico. Chama Outra vez Hawkins em sua defesa: “Será difícil explicar por que o universo teria começado desta exata maneira, a não ser como um ato de um Deus que quisesse criar seres como nós”. Explica as chances e as dificuldades de cada alternativa e conclui que, também aqui, o fosso entre ciência e fé se mantém: os materialistas, por definição, não aceitam a terceira nem os não-materialistas a primeira. A segunda é descartada por ambos. Finaliza advogando que o Princípio Antrópico fornece um argumento interessante a favor do Criador.



Seguindo em frente nesse capítulo Collins fala da revolução que se deu com o surgimento da mecânica quântica, que destruiu o determinismo científico de Laplace e os fundamentos da mecânica clássica newtoniana.  E passa ao tema da cosmologia e da hipótese de Deus. Aqui ele chama Agostinho, que mil anos antes de Darwin, recomendou aos cristãos, referindo-se a passagens difíceis como as do Gênesis, a  não cerrarem posições que possam ser derrubadas pelo progresso científico da humanidade.  Collins encerra o capítulo dizendo que irá aprofundar esse tema mais à frente.

E ponto. Esse resumo está muito grande. E só chegamos à página 90! Vou condensar mais daqui pra frente.  Mas, de qualquer modo, comentar 90 páginas em 10, não tá tão ruim assim. Mas não tá bom não. Vou melhorar.

Até...