Estou a trocentos milhões de
quilômetros de um crítico literário. Cioso
de tais limitações sei que, todavia, me cabe algum direito, dentre os mais
comezinhos, por exemplo, o de dizer o que parece que eu entendi de alguma
leitura. É o que faço aqui, sem pedir licença. Quem quiser jogar pedra, que
jogue. Faz parte. Então vamos.
O livro está dividido em três partes.
Na primeira trata do cisma entre a ciência e a fé. O autor narra sua própria
experiência de passagem do ateísmo – tido como uma necessidade da mente
científica – para a fé cristã. Trata também da guerra das visões de mundo, onde
encontram-se os principais grupos de objeções preliminares dos materialistas ao
campo da fé. Na segunda parte trata das grandes questões da existência humana.
Quais as origens do universo? Qual a origem da vida? O que podemos aprender com
os resultados do imenso trabalho de decifração do DNA? Na terceira parte aborda o cerne do conflito
moderno entre as teorias da ciência e da fé, desde o Gênesis, passando por
Galileu até Darwin. Elenca as alternativas de fé: ateísmo e agnosticismo, Criacionismo,
Design Inteligente e apresenta a Evolução Teísta, (batizada por ele de
BioLogos), como teoria como uma possível síntese aceitável, onde a evolução
darwiniana aparece como o método divino de criação da vida, adotando uma visão
não literal do Gênesis. No capítulo
final narra seu encontro pessoal com Jesus, o que representou um desafio ainda
maior do que o salto para fora do ateísmo.
Ao final, no Apêndice, toca em vários
pontos envolvendo a pesquisa biomédica em questões éticas delicadas, como a
manipulação do DNA, uso de células-tronco, clonagem, etc, e explora questões
que vão além da medicina, envolvendo as complicadíssimas pesquisas sobre a
hereditariedade de comportamentos.
Francis Collins foi diretor mundial
do Projeto Genoma Humano por mais de 10 anos. Aconteceu por aquelas circunstâncias
da vida que às vezes colocam certas peças em posições nada previsíveis no
tabuleiro: o projeto mais desafiador da história da ciência até agora foi conduzido
por um cristão, num meio onde prevalece o ateísmo militante. Como isso ocorreu? Collins conta em seu livro.
É uma história impressionante, em torno de uma luta feroz entre o público e o
privado, envolvendo bilhões de dólares e poderosíssimos interesses
multinacionais. Mas, deixa! Essa parte eu vou omitir, para aguçar a
curiosidade.
Collins mostrou-se consciente dessa
importante particularidade (um cientista
cristão à frente do Projeto Genoma Humano) e foi justo esse senso que o teria
levado a escrever essa obra. Aliás ele deu-se ao trabalho de escrever dois
livros logo após o anúncio do sucesso do sequenciamento do DNA, um de cunho
científico (A Linguagem da Vida) e outro de cunho religioso (A Linguagem de
Deus). No primeiro nos chama a olhar por baixo da ponta do lençol que está
sendo levantado pela genética biomédica, para um futuro completamente
inimaginável por qualquer mente particular ou pela soma de todas as mentes
científicas vivas hoje no planeta: o futuro da medicina e do homem. Nela
percebemos, sem que isso seja afirmado pelo autor, o quanto homem está próximo
de recriar-se a si mesmo, agora quase perfeito, praticamente livre da maioria
das consequências físicas impostas pelo Criador no Paraíso, do que os teólogos
definem como “queda” – conceito nem um pouco científico. No segundo livro
procura trabalhar o conflito entre ciência e fé religiosa, tentando traçar uma
ponte sobre as turbulentas águas dessa inevitável controvérsia que perdura
desde tempos imemoriais e acirra-se agora como nunca. Não direi por mim quanto êxito
o autor logrou nessa construção. Faça você seu próprio juízo. Mas pelo menos
posso apostar que a emoção de seguir a sua aventura intelectual lhe
recompensará ao final das mais de 270 páginas do livro, como recompensou a mim.
Pois bem, com uma linguagem clara e
concisa, sem desprezar os detalhes que são realmente importantes, Collins nos
guia pela epopeia do Genoma Humano e nessa obra, ao contrário da outra,
partindo de sua biografia, para mostrar como foi que aquele menino simplório,
criado numa fazenda poeirenta do interiorzão americano, longe das comodidades
(dos anos 50, imagine!), por pais acadêmicos (doutores, mas nada convencionais,
defensores de um estilo de vida simples), alfabetizado e ensinado primariamente
pela própria mãe em casa, numa infância sem instrução religiosa alguma, tendo
frequentado a escola pública só a partir dos 10 anos, que descobriu-se
agnóstico na adolescência e que, depois, já na academia, aderiu com a maior
naturalidade ao ateísmo científico ali dominante, sim, como, com essa
trajetória, aquele menino do campo de Virgínia West chegou a tornar-se um
médico e um cientista reconhecido, e,
aqui, o inusitado, tardiamente veio a conhecer e aderir à fé – especialmente a
fé cristã – chegando a ocupar a direção do mais importante projeto científico
da humanidade até hoje! Tomara que tenha
se interessado.
Assim o convido a seguir lendo.
Senão, claro, fique por aqui mesmo and save your time.
Vamos por parte, como Jack!
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