quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A Linguagem de Deus - Parte I

Anotações de minhas leituras do livro “A Linguagem de Deus “ de Francis Collins - Parte I









Estou a trocentos milhões de quilômetros de  um crítico literário. Cioso de tais limitações sei que, todavia, me cabe algum direito, dentre os mais comezinhos, por exemplo, o de dizer o que parece que eu entendi de alguma leitura. É o que faço aqui, sem pedir licença. Quem quiser jogar pedra, que jogue. Faz parte. Então vamos.

O livro está dividido em três partes. Na primeira trata do cisma entre a ciência e a fé. O autor narra sua própria experiência de passagem do ateísmo – tido como uma necessidade da mente científica – para a fé cristã. Trata também da guerra das visões de mundo, onde encontram-se os principais grupos de objeções preliminares dos materialistas ao campo da fé. Na segunda parte trata das grandes questões da existência humana. Quais as origens do universo? Qual a origem da vida? O que podemos aprender com os resultados do imenso trabalho de decifração do DNA?  Na terceira parte aborda o cerne do conflito moderno entre as teorias da ciência e da fé, desde o Gênesis, passando por Galileu até Darwin. Elenca as alternativas de fé: ateísmo e agnosticismo, Criacionismo, Design Inteligente e apresenta a Evolução Teísta, (batizada por ele de BioLogos), como teoria como uma possível síntese aceitável, onde a evolução darwiniana aparece como o método divino de criação da vida, adotando uma visão não literal do Gênesis.  No capítulo final narra seu encontro pessoal com Jesus, o que representou um desafio ainda maior do que o salto para fora do ateísmo.

Ao final, no Apêndice, toca em vários pontos envolvendo a pesquisa biomédica em questões éticas delicadas, como a manipulação do DNA, uso de células-tronco, clonagem, etc, e explora questões que vão além da medicina, envolvendo as complicadíssimas pesquisas sobre a hereditariedade de comportamentos.

Francis Collins foi diretor mundial do Projeto Genoma Humano por mais de 10 anos. Aconteceu por aquelas circunstâncias da vida que às vezes colocam certas peças em posições nada previsíveis no tabuleiro: o projeto mais desafiador da história da ciência até agora foi conduzido por um cristão, num meio onde prevalece o ateísmo militante.  Como isso ocorreu? Collins conta em seu livro. É uma história impressionante, em torno de uma luta feroz entre o público e o privado, envolvendo bilhões de dólares e poderosíssimos interesses multinacionais. Mas, deixa! Essa parte eu vou omitir, para aguçar a curiosidade.  

Collins mostrou-se consciente dessa importante particularidade (um  cientista cristão à frente do Projeto Genoma Humano) e foi justo esse senso que o teria levado a escrever essa obra. Aliás ele deu-se ao trabalho de escrever dois livros logo após o anúncio do sucesso do sequenciamento do DNA, um de cunho científico (A Linguagem da Vida) e outro de cunho religioso (A Linguagem de Deus). No primeiro nos chama a olhar por baixo da ponta do lençol que está sendo levantado pela genética biomédica, para um futuro completamente inimaginável por qualquer mente particular ou pela soma de todas as mentes científicas vivas hoje no planeta: o futuro da medicina e do homem. Nela percebemos, sem que isso seja afirmado pelo autor, o quanto homem está próximo de recriar-se a si mesmo, agora quase perfeito, praticamente livre da maioria das consequências físicas impostas pelo Criador no Paraíso, do que os teólogos definem como “queda” – conceito nem um pouco científico. No segundo livro procura trabalhar o conflito entre ciência e fé religiosa, tentando traçar uma ponte sobre as turbulentas águas dessa inevitável controvérsia que perdura desde tempos imemoriais e acirra-se agora como nunca. Não direi por mim quanto êxito o autor logrou nessa construção. Faça você seu próprio juízo. Mas pelo menos posso apostar que a emoção de seguir a sua aventura intelectual lhe recompensará ao final das mais de 270 páginas do livro, como recompensou a mim.

Pois bem, com uma linguagem clara e concisa, sem desprezar os detalhes que são realmente importantes, Collins nos guia pela epopeia do Genoma Humano e nessa obra, ao contrário da outra, partindo de sua biografia, para mostrar como foi que aquele menino simplório, criado numa fazenda poeirenta do interiorzão americano, longe das comodidades (dos anos 50, imagine!), por pais acadêmicos (doutores, mas nada convencionais, defensores de um estilo de vida simples), alfabetizado e ensinado primariamente pela própria mãe em casa, numa infância sem instrução religiosa alguma, tendo frequentado a escola pública só a partir dos 10 anos, que descobriu-se agnóstico na adolescência e que, depois, já na academia, aderiu com a maior naturalidade ao ateísmo científico ali dominante, sim, como, com essa trajetória, aquele menino do campo de Virgínia West chegou a tornar-se um médico e um  cientista reconhecido, e, aqui, o inusitado, tardiamente veio a conhecer e aderir à fé – especialmente a fé cristã – chegando a ocupar a direção do mais importante projeto científico da humanidade até hoje!  Tomara que tenha se interessado.

Assim o convido a seguir lendo. Senão, claro, fique por aqui mesmo and save your time.

Vamos por parte, como Jack!

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