Os questionamentos mais sérios à fé tratados
por Collins no livro são de duas naturezas: filosóficas e científicas. No
capítulo 2 Collins trata dos primeiros. Sem pretender ser original,
humildemente serve-se das discussões que ecoam através dos séculos. Admite como
seu mentor moderno o escritor C. S. Lewis pelo qual evidencia certa devoção.
Resume em quatro grupos as objeções mais intrigantes, e também as mais “irritantes”
que enfrentou naqueles dia de sua fé nascente:
1. A ideia de Deus não seria apenas a
satisfação de um desejo?
2. E o que dizer de todo o mal
perpetrado em nome da religião?
3. Por que um Deus de amor permite o
sofrimento no mundo?
4. Como pode uma pessoa racional
acreditar em milagres?
Então, vamos lá:
1-Deus não seria apenas a satisfação
de um desejo? Aquela ânsia por transcender a matéria que ecoa em cada pessoa, seria
isso apenas alguma manifestação neuroquímica ainda não explicada pela ciência?
Neurotransmissores pousando exatamente sobre os receptores corretos? (Aqui eu elaborei de uma forma diferente e
imaginei: Essa ânsia do transcendente não seria algo como uma resposta
bioquímica ambiental para despertar sensações de prazer e inquietude a fim de
estimular a existência dos genes e mover o processo evolutivo?). Collins lembra que no pensamento ateísta não
se pode dar crédito àquelas sensações de sublimidade ante a beleza dos quadros
da natureza e do universo, da música, das artes e da poesia: “representa nada
mais do que um pensamento mágico forjando uma resposta que queremos”. Mas, por
que queremos essa resposta? Silêncio.
Collins cita o clássico argumento reducionista formulado por Freud: “Deus não é
senão a semelhança de um pai humano elevado”.
O pai humano ideal que ninguém teve.
Collins passa em revista a arena do
embate, num emocionante desfile de contestações de ambos os lados. O anseio pelo sagrado, como aspecto universal
e enigmático da experiência humana, seria apenas a realização de um desejo ou seria
uma seta apontando para algo além de nós? Cita Armand Nicholi – o pai
idealizado não bate com o Deus justo das escrituras cristãs. Se o desejo dos
jovens é de independência e autonomia em relação aos pais o desejo freudiano
por Deus não poderia ser também o de por-não-Deus, ateísmo? Cita C. S. Lewis – as criaturas nascem com
desejos porque existem as satisfações deles. Não se pode desejar o inexistente.
Se existe o desejo pelo transcendente, existe o transcendente. Por que o vácuo em nosso coração se não
houver como preenche-lo? Cita Annie
Dillard, sobre o avanço da incredulidade e seus efeitos devastadores – Agora
não somos mais primitivos. Agora o mundo inteiro não parece santo. Trocamos o
panteísmo pelo pan-ateísmo. É difícil desfazer nosso dano e trazer o que
pedimos para abandonar. É difícil incendiar um bosque e mudar de ideia. Mas de
cada canto destruído uma voz, um som, a dança da natureza persiste no seu
apontamento teimoso para o divino. De
qualquer modo, a questão fica em aberto. Mas os indícios de transcendência não
podem mais ser ignorados. São fatos. E como tais precisam ser encarados. E
ninguém pode ser tachado de pouco inteligente nesse “encaramento”.
2-E quanto a todo o mal perpetrado em
nome das religiões? Collins gasta três
páginas para chamar argumentos já consagrados. Porque esse ponto, segundo
entendo, já não é mais problemático. As
respostas são tão claras e abundantes que apenas mentes obtusas de certos
ateístas militantes persistem em reafirmá-lo.
Qualquer pessoa minimamente instruída – ou não – pode perceber que o
homem é capaz de usar suas crenças ou descrenças, assim como suas habilidades
naturais ou acadêmicas em favor dos crimes mais atrozes ou das ações mais
sublimes. Tudo o que a ciência, por meio de ateístas ou teístas, produziu foi e é objeto de crimes ou sublimidades. Não
se pode culpar, nem justificar, os meios pelos fins para os quais foram usados.
Assim como não se pode julgar os médicos
pelos maus-médicos, jornalistas pelos maus-jornalistas, também não ateístas
pelos maus-ateístas, religiosos pelos maus-religiosos, etc. As guerras e as atrocidades, sejam as
cruzadas, sejam as nazistas, foram perpetradas por homens movidos por maus
desígnios, usando como base ideológica suas convicções, sejam elas religiosas
ou materialistas. Ponto superado.
Próximo post.
Nenhum comentário:
Postar um comentário