quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A Linguagem de Deus - Parte III

Anotações sobre minhas leituras do livro "A Linguagem de Deus" - Parte III










Os questionamentos mais sérios à fé tratados por Collins no livro são de duas naturezas: filosóficas e científicas. No capítulo 2 Collins trata dos primeiros. Sem pretender ser original, humildemente serve-se das discussões que ecoam através dos séculos. Admite como seu mentor moderno o escritor C. S. Lewis pelo qual evidencia certa devoção. Resume em quatro grupos as objeções mais intrigantes, e também as mais “irritantes” que enfrentou naqueles dia de sua fé nascente:

1.      A ideia de Deus não seria apenas a satisfação de um desejo?
2.      E o que dizer de todo o mal perpetrado em nome da religião?
3.      Por que um Deus de amor permite o sofrimento no mundo?
4.      Como pode uma pessoa racional acreditar em milagres?

Então, vamos lá:

1-Deus não seria apenas a satisfação de um desejo? Aquela ânsia por transcender a matéria que ecoa em cada pessoa, seria isso apenas alguma manifestação neuroquímica ainda não explicada pela ciência? Neurotransmissores pousando exatamente sobre os receptores corretos?  (Aqui eu elaborei de uma forma diferente e imaginei: Essa ânsia do transcendente não seria algo como uma resposta bioquímica ambiental para despertar sensações de prazer e inquietude a fim de estimular a existência dos genes e mover o processo evolutivo?).  Collins lembra que no pensamento ateísta não se pode dar crédito àquelas sensações de sublimidade ante a beleza dos quadros da natureza e do universo, da música, das artes e da poesia: “representa nada mais do que um pensamento mágico forjando uma resposta que queremos”. Mas, por que queremos essa resposta?  Silêncio. Collins cita o clássico argumento reducionista formulado por Freud: “Deus não é senão a semelhança de um pai humano elevado”.  O pai humano ideal que ninguém teve.

Collins passa em revista a arena do embate, num emocionante desfile de contestações de ambos os lados.  O anseio pelo sagrado, como aspecto universal e enigmático da experiência humana, seria apenas a realização de um desejo ou seria uma seta apontando para algo além de nós? Cita Armand Nicholi – o pai idealizado não bate com o Deus justo das escrituras cristãs. Se o desejo dos jovens é de independência e autonomia em relação aos pais o desejo freudiano por Deus não poderia ser também o de por-não-Deus, ateísmo?  Cita C. S. Lewis – as criaturas nascem com desejos porque existem as satisfações deles. Não se pode desejar o inexistente. Se existe o desejo pelo transcendente, existe o transcendente.  Por que o vácuo em nosso coração se não houver como preenche-lo?  Cita Annie Dillard, sobre o avanço da incredulidade e seus efeitos devastadores – Agora não somos mais primitivos. Agora o mundo inteiro não parece santo. Trocamos o panteísmo pelo pan-ateísmo. É difícil desfazer nosso dano e trazer o que pedimos para abandonar. É difícil incendiar um bosque e mudar de ideia. Mas de cada canto destruído uma voz, um som, a dança da natureza persiste no seu apontamento teimoso para o divino.  De qualquer modo, a questão fica em aberto. Mas os indícios de transcendência não podem mais ser ignorados. São fatos. E como tais precisam ser encarados. E ninguém pode ser tachado de pouco inteligente nesse “encaramento”.  

2-E quanto a todo o mal perpetrado em nome das religiões?  Collins gasta três páginas para chamar argumentos já consagrados. Porque esse ponto, segundo entendo,  já não é mais problemático. As respostas são tão claras e abundantes que apenas mentes obtusas de certos ateístas militantes persistem em reafirmá-lo.  Qualquer pessoa minimamente instruída – ou não – pode perceber que o homem é capaz de usar suas crenças ou descrenças, assim como suas habilidades naturais ou acadêmicas em favor dos crimes mais atrozes ou das ações mais sublimes. Tudo o que a ciência, por meio de ateístas ou teístas, produziu  foi e é objeto de crimes ou sublimidades. Não se pode culpar, nem justificar, os meios pelos fins para os quais foram usados.  Assim como não se pode julgar os médicos pelos maus-médicos, jornalistas pelos maus-jornalistas, também não ateístas pelos maus-ateístas, religiosos pelos maus-religiosos, etc.  As guerras e as atrocidades, sejam as cruzadas, sejam as nazistas, foram perpetradas por homens movidos por maus desígnios, usando como base ideológica suas convicções, sejam elas religiosas ou materialistas. Ponto superado.

Próximo post.

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