quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A Linguagem de Deus - Parte II

Anotações de minhas leituras do livro “A Linguagem de Deus “ de Francis Collins - Parte II








Como esse não é um resumo literário mas anotações sobre minha leitura tomo a liberdade de pontuar aqui e ali. O leitor se achar isso presunçoso releve. É da natureza humana manifestar-se. Faça-o também, se quiser, nos comments do blog. E, claro, a leitura completa do livro de Collins seria o ideal. Sigamos.

A vida acadêmica de Collins foi um tanto tumultuosa quanto aos seus objetivos. Só tardiamente, já quase concluindo o doutorado em química, na Universidade de Virgínia, mudou para medicina. Foi estudar então na Universidade da Carolina do Norte. E foi ali que finalmente encontrou-se, ao linkar a ciência diretamente com a vida real e com o destino das pessoas. Porém, ainda estudante, ao lidar com enfermos moribundos, na linha divisória entre a vida e a morte, não conseguiu manter a neutralidade objetiva para a qual tanto fora treinado. Aquelas velhas e perturbadoras perguntas sobre o sentido da vida se impuseram com ímpeto. Iniciou-se, contra sua vontade, um processo busca angustiada. Sua mente recusava-se a jogar para debaixo do tapete aquelas perguntas. Elas pareciam ter vida própria. Recusavam-se a sair de cena. Perturbavam dias e noites, não o deixando em paz. Procurou ler livros religiosos, mas não conseguia encontra uma resposta que lhe trouxesse paz. Até que, em meio a essa busca autônoma e desobediente à sua vontade, veio a receber um livro de um pastor luterano: “Cristianismo Puro e Simples”, do lendário acadêmico e escritor de Oxford C. S. Lewis (autor da série infanto-juvenil As Crônicas de Narnia, filmadas com grande sucesso pela BBC de Londres).

Eu fico impressionado de ver o quanto esse livrinho precioso de Lewis aparece em tantas biografias de ex-agnósticos e ex-ateus que aderem a Cristo. Por exemplo, o ateu, então doutorando em química Alister McGrath, de Oxford, que abandonou a ciência pela teologia, também sentiu a influencia deste livrinho.  (E foi justamente McGrath quem refutou a bombástica obra neo-ateísta de Richard Dawkins “Deus, um Delírio”, ao publicar “O Delírio de Dawkins”. Se quiser ver, encontrará no YouTube vídeos com debates entre os dois, alguns legendados em português).

Publicado originalmente com o título “Surprised by Joy” (Surpreendido pela Alegria) Lewis conta no livrinho a sua própria trajetória do ateísmo à fé cristã. Os seus argumentos  – o certo e o errado como chaves para a compreensão do universo, a tal Lei Moral Universal, ou a Lei do Comportamento Humano  – já derrubaram muita gente incrédula mundo afora. E não foi diferente com Collins: “Lewis parecia conhecer todas as minhas objeções”.   Depois de muitas elucubrações, leituras, conflitos e questionamentos, Collins conta com emoção o momento em que, num misto de angústia e exultação, saltou para a fé.

Collins segue então, como que por uma obrigação de princípio, tipo assim uma necessidade essencial, a fazer a sustentação lógica de sua própria trilha para e através da fé.  Fala sobre o terreno no qual brota fé  – o terreno da dúvida. Cita Paull Tillich, “A dúvida não é oposta à fé e sim um elemento dela”. A leitura fluídica e gostosa do texto eventualmente nos leva a perceber o quanto são igualmente inevitáveis os conflitos da fé e os da não-fé.  Perguntei-me a mim mesmo: haveria vida confortável na terra? Essa essencialidade de sentido poderia ser descartável, de alguma forma?  Me parece que não. Mesmo a poltrona dos agnósticos, da desistência de negar ou afirmar o fato de Deus, pode incomodar vez por outra. Parece que cada ser humano terá que ou lidar com os questionamentos dessa inevitável escolha entre ser crente ou ateu, ou fugir para sentar-se na poltrona agnóstica, seja lá por quanto tempo, até ser obrigado a levantar-se, se não quiser morrer sentado nela.   

Paro aqui para continuar no próximo post.

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