Como esse não é um resumo literário
mas anotações sobre minha leitura tomo a liberdade de pontuar aqui e ali. O
leitor se achar isso presunçoso releve. É da natureza humana manifestar-se.
Faça-o também, se quiser, nos comments do blog. E, claro, a leitura completa do
livro de Collins seria o ideal. Sigamos.
A vida acadêmica de Collins foi um
tanto tumultuosa quanto aos seus objetivos. Só tardiamente, já quase concluindo
o doutorado em química, na Universidade de Virgínia, mudou para medicina. Foi
estudar então na Universidade da Carolina do Norte. E foi ali que finalmente
encontrou-se, ao linkar a ciência diretamente com a vida real e com o destino
das pessoas. Porém, ainda estudante, ao lidar com enfermos moribundos, na linha
divisória entre a vida e a morte, não conseguiu manter a neutralidade objetiva
para a qual tanto fora treinado. Aquelas velhas e perturbadoras perguntas sobre
o sentido da vida se impuseram com ímpeto. Iniciou-se, contra sua vontade, um
processo busca angustiada. Sua mente recusava-se a jogar para debaixo do tapete
aquelas perguntas. Elas pareciam ter vida própria. Recusavam-se a sair de cena.
Perturbavam dias e noites, não o deixando em paz. Procurou ler livros
religiosos, mas não conseguia encontra uma resposta que lhe trouxesse paz. Até
que, em meio a essa busca autônoma e desobediente à sua vontade, veio a receber
um livro de um pastor luterano: “Cristianismo Puro e Simples”, do lendário
acadêmico e escritor de Oxford C. S. Lewis (autor da série infanto-juvenil As
Crônicas de Narnia, filmadas com grande sucesso pela BBC de Londres).
Eu fico impressionado de ver o quanto
esse livrinho precioso de Lewis aparece em tantas biografias de ex-agnósticos e
ex-ateus que aderem a Cristo. Por exemplo, o ateu, então doutorando em química
Alister McGrath, de Oxford, que abandonou a ciência pela teologia, também
sentiu a influencia deste livrinho. (E
foi justamente McGrath quem refutou a bombástica obra neo-ateísta de Richard
Dawkins “Deus, um Delírio”, ao publicar “O Delírio de Dawkins”. Se quiser ver,
encontrará no YouTube vídeos com debates entre os dois, alguns legendados em
português).
Publicado originalmente com o título
“Surprised by Joy” (Surpreendido pela Alegria) Lewis conta no livrinho a sua
própria trajetória do ateísmo à fé cristã. Os seus argumentos – o certo e o errado como chaves para a
compreensão do universo, a tal Lei Moral Universal, ou a Lei do Comportamento
Humano – já derrubaram muita gente
incrédula mundo afora. E não foi diferente com Collins: “Lewis parecia conhecer
todas as minhas objeções”. Depois de
muitas elucubrações, leituras, conflitos e questionamentos, Collins conta com
emoção o momento em que, num misto de angústia e exultação, saltou para a fé.
Collins segue então, como que por uma
obrigação de princípio, tipo assim uma necessidade essencial, a fazer a
sustentação lógica de sua própria trilha para e através da fé. Fala sobre o terreno no qual brota fé – o terreno da dúvida. Cita Paull Tillich, “A
dúvida não é oposta à fé e sim um elemento dela”. A leitura fluídica e gostosa
do texto eventualmente nos leva a perceber o quanto são igualmente inevitáveis
os conflitos da fé e os da não-fé. Perguntei-me
a mim mesmo: haveria vida confortável na terra? Essa essencialidade de sentido
poderia ser descartável, de alguma forma?
Me parece que não. Mesmo a poltrona dos agnósticos, da desistência de
negar ou afirmar o fato de Deus, pode incomodar vez por outra. Parece que cada
ser humano terá que ou lidar com os questionamentos dessa inevitável escolha
entre ser crente ou ateu, ou fugir para sentar-se na poltrona agnóstica, seja
lá por quanto tempo, até ser obrigado a levantar-se, se não quiser morrer
sentado nela.
Paro aqui para continuar no próximo
post.
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