Minhas anotações sobre o livro “A
Linguagem de Deus”, de Francis Collins – Parte VII
Continuando na segunda parte do
livro, com o tema geral “As Grandes Questões da Existência Humana”, chegamos ao
capítulo 5, que tem por subtema “Decifrando o manual de instruções de Deus – As
lições do genoma humano”.
Esse é o capítulo mais longo e técnico
do livro. Mas a linguagem é leve e acessível e o estilo simples e direto torna
a leitura gostosa e empolgante. O genoma é a estrutura mais complexa da biologia.
No início dos anos 80 pesquisar um erro de apenas uma letra numa sequencia do
DNA era um trabalho muito difícil, cansativo, demorado e caro. Pouco se sabia
sobre os três bilhões de pares de bases da dupla hélice do DNA ou sobre os genes
– os trechos de tamanhos variados dessa hélice que formam uma informação, ou
seja, uma instrução específica. Nem mesmo se sabia ao certo quantos genes ao
todo compunham o genoma humano. Decifrar esse enigma passou a ser o principal
objetivo da pesquisa genética. Muitas doenças genéticas penosas e fatais, como
a Fibrose Cística (FC), são causadas por alguma troca de letras em algum ponto
da longa escadaria do DNA.
No início do livro Collins já falara
um pouco da grandeza do DNA. Diz que se lêssemos as três bilhões de letras uma
letra por segundo levaríamos 31 anos, dia e noite, ininterruptamente, para
concluir a tarefa. Eu fiz um cálculo: se ao invés de ler, escrevêssemos numa
folha de papel A4 todas as letras, depois dos 31 anos teríamos uma pilha de
papel com 50 andares de altura! Acompanhe o cálculo: Fiquemos com
"apenas" 3 bilhões de letras (são mais). Escrevendo 2000 letras por
folha (por alto) daria 1,5 milhões de folhas, ou 3 mil resmas (cada resma 500
folhas). Como cada resma tem 5 cm, ergueríamos uma pilha de papel de 150
metros, ou 50 andares (3 metros por andar em média)! E toda essa informação
está presente em cada uma das 10 trilhões de células num humano adulto. Publiquei
isso no meu mural do Facebook e acrescentei:
“Acredite quem quiser que tudo isso foi guiado pelas forças cegas da
sobrevivência, sem nenhum propósito ou projeto, pelos replicadores cegos e
egoístas”. Mas o pior, é que errei no
cálculo! São 3 bilhões de PARES de letras; sendo assim, são 6 BILHÕES de letras.
Então a nossa torre de resmas de papel atingiria 100 andares!
Tudo no gene é grandioso. Chegar ao
gene causador da FC, por exemplo, é uma das experiências relatadas por Collins
neste capítulo. Esse gene foi identificado em 1989, depois de 10 anos do
trabalho incansável de mais de duas dúzias de equipes de cientistas espalhadas
pelo mundo, ao custo de mais de 50 milhões de dólares. E isso para identificar
esse único gene causador de uma única enfermidade – uma das mais fáceis pois
causada por um único gene defeituoso. Há enfermidades poligênicas que poderão levar
décadas para serem decifradas. Quando o
projeto genoma surgiu no cenário, o desafio de a humanidade de sequenciar o
DNA, fosse a que custo fosse e levasse o tempo que fosse, Collins deduziu de
pronto que jamais essa tarefa seria cumprida no curso de sua existência. Pra
nossa sorte e pra sua felicidade, foi. Mas não todo. Ainda falta muito, mas
muito mesmo. Nas palavras do próprio Collins em uma de suas entrevistas, estamos
chegando apenas ao fim do começo. O anúncio feito com grande estardalhaço na
Casa Branca em junho/2000 não era nem mesmo esse fim-de-começo, pois ali ainda
era anunciado apenas, como disse Collins, “um primeiro enredo”.
São muitos detalhe e aventuras
emocionantes narradas no capítulo. Não é possível aprofundar mais num resumo
como este. Deixo para a leitura direta.
A porta foi destrancada. Falta abrir
e entrar no quarto. Apesar do tom triunfalista e otimista de Collins, muitas questões
estão em jogo e põem em risco as aplicações desses conhecimentos em prol do bem
da humanidade. É sempre assim na ciência e em tudo o que o homem faz. Talvez
isso esteja em nosso DNA :). Interesses econômicos, vaidades e disputas, implicações
sociais, explorações de toda ordem, reducionismos, preciosismos e presunções, e
principalmente questões éticas, como, por exemplo, implicações eugênicas. Com
certeza são desafios muito maiores para a humanidade em vista do que será
possível fazer com todo esse fantástico conhecimento genético. É como o poder de
uma bomba atômica. O que a humanidade conseguirá fazer com tudo isso, para o
seu bem ou para o seu mal?
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