sábado, 28 de setembro de 2013

A Linguagem da Vida - Parte VII



Minhas anotações sobre o livro “A Linguagem de Deus”, de Francis Collins – Parte VII




Continuando na segunda parte do livro, com o tema geral “As Grandes Questões da Existência Humana”, chegamos ao capítulo 5, que tem por subtema “Decifrando o manual de instruções de Deus – As lições do genoma humano”. 

Esse é o capítulo mais longo e técnico do livro. Mas a linguagem é leve e acessível e o estilo simples e direto torna a leitura gostosa e empolgante. O genoma é a estrutura mais complexa da biologia. No início dos anos 80 pesquisar um erro de apenas uma letra numa sequencia do DNA era um trabalho muito difícil, cansativo, demorado e caro. Pouco se sabia sobre os três bilhões de pares de bases da dupla hélice do DNA ou sobre os genes – os trechos de tamanhos variados dessa hélice que formam uma informação, ou seja, uma instrução específica. Nem mesmo se sabia ao certo quantos genes ao todo compunham o genoma humano. Decifrar esse enigma passou a ser o principal objetivo da pesquisa genética. Muitas doenças genéticas penosas e fatais, como a Fibrose Cística (FC), são causadas por alguma troca de letras em algum ponto da longa escadaria do DNA.  

No início do livro Collins já falara um pouco da grandeza do DNA. Diz que se lêssemos as três bilhões de letras uma letra por segundo levaríamos 31 anos, dia e noite, ininterruptamente, para concluir a tarefa. Eu fiz um cálculo: se ao invés de ler, escrevêssemos numa folha de papel A4 todas as letras, depois dos 31 anos teríamos uma pilha de papel com 50 andares de altura! Acompanhe o cálculo: Fiquemos com "apenas" 3 bilhões de letras (são mais). Escrevendo 2000 letras por folha (por alto) daria 1,5 milhões de folhas, ou 3 mil resmas (cada resma 500 folhas). Como cada resma tem 5 cm, ergueríamos uma pilha de papel de 150 metros, ou 50 andares (3 metros por andar em média)! E toda essa informação está presente em cada uma das 10 trilhões de células num humano adulto. Publiquei isso no meu mural do Facebook e acrescentei:  “Acredite quem quiser que tudo isso foi guiado pelas forças cegas da sobrevivência, sem nenhum propósito ou projeto, pelos replicadores cegos e egoístas”.  Mas o pior, é que errei no cálculo! São 3 bilhões de PARES de letras; sendo assim, são 6 BILHÕES de letras. Então a nossa torre de resmas de papel atingiria 100 andares!

Tudo no gene é grandioso. Chegar ao gene causador da FC, por exemplo, é uma das experiências relatadas por Collins neste capítulo. Esse gene foi identificado em 1989, depois de 10 anos do trabalho incansável de mais de duas dúzias de equipes de cientistas espalhadas pelo mundo, ao custo de mais de 50 milhões de dólares. E isso para identificar esse único gene causador de uma única enfermidade – uma das mais fáceis pois causada por um único gene defeituoso. Há enfermidades poligênicas que poderão levar décadas para serem decifradas.  Quando o projeto genoma surgiu no cenário, o desafio de a humanidade de sequenciar o DNA, fosse a que custo fosse e levasse o tempo que fosse, Collins deduziu de pronto que jamais essa tarefa seria cumprida no curso de sua existência. Pra nossa sorte e pra sua felicidade, foi. Mas não todo. Ainda falta muito, mas muito mesmo. Nas palavras do próprio Collins em uma de suas entrevistas, estamos chegando apenas ao fim do começo. O anúncio feito com grande estardalhaço na Casa Branca em junho/2000 não era nem mesmo esse fim-de-começo, pois ali ainda era anunciado apenas, como disse Collins, “um primeiro enredo”.  

São muitos detalhe e aventuras emocionantes narradas no capítulo. Não é possível aprofundar mais num resumo como este. Deixo para a leitura direta.


A porta foi destrancada. Falta abrir e entrar no quarto. Apesar do tom triunfalista e otimista de Collins, muitas questões estão em jogo e põem em risco as aplicações desses conhecimentos em prol do bem da humanidade. É sempre assim na ciência e em tudo o que o homem faz. Talvez isso esteja em nosso DNA :). Interesses econômicos, vaidades e disputas, implicações sociais, explorações de toda ordem, reducionismos, preciosismos e presunções, e principalmente questões éticas, como, por exemplo, implicações eugênicas. Com certeza são desafios muito maiores para a humanidade em vista do que será possível fazer com todo esse fantástico conhecimento genético. É como o poder de uma bomba atômica. O que a humanidade conseguirá fazer com tudo isso, para o seu bem ou para o seu mal?  




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