segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Anotações sobre as palestras do congresso de família da IPSL – 03/08 a 01/09/2913 - PARTE I

Sábado, 31/08/2013 – MANHÖ encontro com os homens
Rev. Erasmo Carlos - Pastor da Igreja Presbiteriana Renovada do Maiobão-S.Luis-MA

Tema: Como lidar com os conflitos familiares

Texto bíblico em destaque: II Samuel, capítulos 13 a 15 – conflitos de Davi com seu filho Absalão.

Colocações iniciais do Pr. Erasmo Carlos:

·         Nós estamos vivendo um tempo de transformações silenciosas na concepção da família.
·         Precisamos discernir essas transformações silenciosas.
·         Nós cristãos fazemos parte desse tecido social. Não estamos isentos.
·         Para a igreja convergem todas as transformações e demandas que emergem da sociedade. Não podemos nos omitir.
·         O modelo patriarcal de família sofre um terrível  golpe. Esse modelo é marcante no VT. Porém ele  não é isento também de conflitos. Família também é um lugar de conflitos, de angústias, de ressentimentos, pois para ela convergem todas as contradições da alma humana.   No modelo patriarcal o pai corta, a mãe libera.
·         A emancipação da mulher é um aspecto importante dessa sociedade, está na base da implosão do modelo patriarcal e é um processo irreversível que criou uma nova realidade na família. A conquista da autonomia da mulher (financeira e profissional) gerou novos conflitos.
·         A Bíblia narra histórias reais de famílias, com seus encontros e desencontros.
·         Nenhuma família, mesmo aquelas narradas na Bíblia, está blindada das contradições humanas. Não há como blindar famílias das contradições do nosso próprio tempo.
·         Não é pelo fato da família deixar de ser patriarcal que ela  deixa de ser cristã.

Pr. Ivan intervém para suscitar o debate e coloca algumas questões:
·         Como lidar com essa nova realidade?
·         Essa nova realidade vem dentro de um contexto maior onde o pensamento secular firma cada vez mais um descompromisso com os valores cristãos históricos. Estamos em direção a uma sociedade pós-cristã?

Pb. Emanoel Claudino faz uma colocação importante:
·         O modelo patriarcal de família, no qual os papéis estão bem definidos para o homem, para a mulher e os filhos, seria o modelo ideal pelo qual nós devamos lutar para estabelecer como modelo cristão?  “No princípio não era assim”. O modelo de família antes da Queda era do homem e a mulher numa igualdade de natureza e propósito, sendo a mulher uma companheira idônea, de mesma natureza e dignidade, pelo que foi chamada de varoa. Não seria esse o modelo mais apropriado como ideal a ser buscado? Esse modelo do Éden parece estar muito mais em sintonia com o processo atual de reabilitação da mulher.

Pb. Paiva:
·         Os princípios da família patriarcal ainda podem ser válidos, mas há necessidade de uma adaptação na sua aplicação. Antigamente o pai cristão definia por si, na base da autoridade, a direção da família. Pelo menos foi a minha experiência. Aos filhos competia apenas obedecer. Não se levava em conta o que ele sentia ou pensava a respeito, no caso, tinha que ir pra a igreja. Era uma questão de obediência. Hoje não pode ser mais assim.

Pr. Francisco (da Igreja do Anjo da Guarda):
·         O fundamento da família deve permanecer o mesmo  - Cristo – e sobre esse fundamento outro modelo familiar pode ser erguido.

Marcos Vinícius:
·         Uma característica do modelo patriarcal era justamente essa ditadura familiar centrada no pai, determinante dos rumos da família, inclusive na questão do culto religioso, que, no fundo, seria uma questão de consciência individual, mas que no patriarcado judaico expressava-se no modelo afirmativo exemplificado em Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor”.

Pr. Ivan volta a pontuar para dinamizar a discussão, lançando novas questões:
·         A igreja não vai poder barrar as transformações que estão em curso na sociedade, mas como manter nossos princípios hoje? Como abrir na família o espaço da adoração? Como conservar e promover a adoração familiar? Um lugar onde a relação com Deus não seja apenas uma questão individual, de foro íntimo, mas uma realidade comunitária familiar?

Faustino Jr coloca alguns pontos em apoio aos questionamentos do Pr. Ivan:
·         Se, como colocado até aqui, o mundo está alterando silenciosamente o modelo de família; se esse processo é irreversível; se o modelo patriarcal não é uma bandeira cristã pela qual devamos lutar; se as crises familiares decorrem da natureza humana decaída e não simplesmente do modelo; se não  se pode blindar a família contra as vicissitudes da vida; então, como discernir essas transformações silenciosas (não tão silenciosas assim, na verdade), de modo a manter os valores cristãos ante os novos modelos familiares emergentes? Por exemplo, como aplicar o princípio da submissão da mulher num contexto de emancipação feminina e mudança de papel, por exemplo?
·         Tomando o exemplo do divórcio: não surgiu da igreja, muito pelo contrário. Até 30 anos atrás era pecado divorciar-se. Foram dois milênios desse entendimento praticamente unânime na cristandade ocidental. Justificar o divórcio a partir das palavras diretas de Jesus exige um certo malabarismo mental. Mas a sociedade secular discutiu, enfrentou a resistência religiosa de católicos e protestantes (na época não se usava o temo “evangélicos” para se referir aos cristãos não católicos) e veio a lei do divórcio em praticamente todos os países ocidentais de base cristã. A igreja estrebuchou, resistiu o quanto pode, depois, aos poucos, alterou sua teologia milenar para abraçar o divórcio, hoje uma medida francamente libertadora, embora não isenta, como qualquer coisa, de ser usada levianamente.

Pb. Stéllio comenta sobre a submissão da mulher:
·         “Queria que levantasse a mão aqui quem vive em sua família uma relação perfeita de submissão feminina”; Em seguida pontua: “Diálogo é tudo, a administração familiar é uma tarefa conjunta entre marido e mulher com base no diálogo e na interação dos papéis”.

Pr. Erasmo Carlos:
·         Estar em Deus, ter um coração convertido à vontade de Deus fará toda a diferença.

Faustino Jr. pensou mas não falou:
·         Fará mesmo toda a diferença? O que é estar em Deus? O que é ter o coração convertido à vontade de Deus?  É fácil alinhar-se à vontade de Deus? Aliás, isso é mesmo possível em termos estáveis? E estar em Deus nos facilitaria lidar com as contradições da humanidade fora e dentro de nós mesmos, consequências da Queda? Desconfio que não. “Quem me livrará do corpo dessa morte?”

·         Precisamos resgatar nossa própria humanidade – nós somos gente, nós somos pessoas.
·         A busca pelo sucesso nos afasta da família. Essa é uma característica da nossa sociedade: todos estão comprometidos com a busca de seu lugar ao sol.

Pb. Johny Ribeiro:
·         A emancipação da mulher também não veio da igreja e sim de fora. E nós achamos que, por isso, tínhamos a obrigação de rejeitá-la. Minha formação familiar me impôs alguns modelos que eu contestava e que agora, no meu casamento, de vez em quando, me surpreendo ao reproduzi-los.  Deveria a emancipação da mulher ter emergido na igreja e daí para a sociedade secular.  


2 comentários:

  1. Em todos os pontos, as iniciativas começaram fora da Igreja... seria a Igreja um bastião de retrógrados ? Ou de conservadores contumazes que terminam por admitir que os tempos mudaram ?

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  2. Ufa! vamos lá... Conheci variados modelos em minha vida: patriarcal, patrilocal e patrilinear; patriarcal, patrilocal e matrilinear; patriarcal. matrilocal e matrilinear e variações destes. Ainda arranjos parentais onde um homem ao casar com uma mulher, passa a ter direitos maritais sobre as cunhadas (imãs de sua mulher), lógico, sua mulher também compartilha o marido de suas irmãs.
    Outros li e ouvi relatos a respeito, como os modelos matriarcais e suas variantes. Em todos os casos há mecanismos sociais, alguns até ritualizados para tratar dos - vamos dizer assim forçando a barra - o que seria para nós os "desvios de conduta". Há um equilíbrio social que dinamicamente conduz os arranjos matrimoniais, as relações clânicas e a divisão de tarefas (por sexo, por idade, etc). Sem grandes conflitos, esse arranjos continuam por gerações à fio... Costumamos dizer que as mulheres indígenas não obedecem ao marido, mas às tradições. Todo o tempo que vivi em aldeias nunca vi um marido mandar uma mulher fazer tal e tal coisa. Elas são ensinadas desde cedo pelas mais velhas o que compete a cada um fazer. Da mesma forma que nunca vi uma criança apanhar ou ser castigada.
    Sabe quando é que a coisa complica? Quando chega o cristianismo nas aldeias.
    Cristão é obcecado por pecado. Virou neurose! Ai a organização social que durou gerações sem grandes problemas, vira um caos. Tudo é pecado!
    Sei que sou carta fora do baralho no meio de vocês, mas procuro viver com simplicidade, observando a vida ao meu redor sem grandes traumas comportamentais.
    A humanidade só chegou até aqui por causa da diversidade... a globalização tende à destruição, seja essa destruição um rompimento vertiginoso que levará a outro patamar evolutivo, seja a própria aniquilação da sociedade humana (dilúvio, babel, roma, etc). É só olhar para trás e ver.

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