quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A Linguagem de Deus - Parte IV

Anotações de minhas leituras do livro “A Linguagem de Deus “ de Francis Collins - Parte IV











Continuemos com as objeções mais intrigantes (e mais irritantes, hehehe..) à fé elencadas por Francis Collins:



3-E por que um Deus de amor permite o sofrimento no mundo?  Aqui Collins chama seu mentor C. S. Lewis novamente. Lewis escreveu um livro inteiro sobre isso: “O Problema do Sofrimento Humano”. O dilema de Epicuro na versão Lewis é trazido ao texto: “Se Deus fosse bom, desejaria fazer suas criaturas felizes. Se fosse onipotente seria capaz de realizar esse desejo. No entanto a infelicidade e o sofrimento existem. Portanto, Deus não pode ser bom e onipotente ao mesmo tempo”.  As respostas giram em torno do livre-arbítrio e da responsabilidade humana. Não são argumentos fáceis de compreender ou de aceitar.  A Lei Moral aparece como desafio à responsabilidade pessoal. Todos somos chamados a responder à Lei Moral.  E o exercício dessa liberdade nos confronta com a nossa própria maldade e não a de Deus. Deveria então o nosso livre-arbítrio ser restringido por Deus em prol do bem maior da humanidade? É uma tese. Mas leva a um dilema: livre-arbítrio restrito não é livre-arbítrio. A bondade humana, que os humanistas tanto prezam, só pode ser boa diante da possibilidade do mal. 

Mas seguem as inquietações. Que dizer dos inocentes vítimas da sanha violenta de criminosos? O autor relata um caso tão lancinante que surpreende o leitor com grande impacto. Deixo-o em suspense. E o que dizer dos desastres naturais que destroem tantas vidas de uma só vez? Das enfermidades genéticas em vítimas inocentes? Aqui Collins, como bom cientista, apela para as forças por trás do próprio processo evolucionário que, segundo ele, Deus optou por usar para criar os seres humanos. Esse processo é sujeito a falhas causadoras de desequilíbrios e sofrimentos. Ponto questionável, claro. Mas enfim ele reconhece que essas explicações racionais fracassam por não fornecer uma justificativa para a existência da dor humana. Diz que talvez nunca cheguemos a essa compreensão, mas propõe que aceitemos que existam explicações para a dor.  Apela então para Lewis que coloca o sofrimento como uma necessidade no caminho do aprendizado. Sem ele o caráter humano se amesquinharia. E não está sozinho nisso. Esse princípio é quase universal nas grandes crenças mundiais.  Contudo, não é acessível ao reducionismo materialista. Só o campo da espiritualidade lhe oferece ancoragem.  Collins traz à cena os sofrimentos do teólogo alemão assassinado pelo nazismo, Dietrich Bonhoeffer, que, antes de morrer, expressa gratidão por ter enriquecida a sua experiência de vida pelos esforços criativos, pelo prazer e pelo sofrimento.

A meu ver o problema do sofrimento humano tem alguma saída mesmo só pela via do livre arbítrio. A outra, a soberania de Deus e seus propósitos insondáveis, são mais difíceis ainda para a mente materialista.  Questão em aberto e de difícil equalização na humanidade.


4-E como pode uma pessoa racional acreditar em milagres?

Milagre é algum evento que parece inexplicável às leis da natureza. Todas as religiões incluem a crença em determinados milagres passados e na possibilidade deles na vida real. Mas podemos aceitar essas alegações enquanto modernos seres racionais? Um cientista pode acreditar em milagres?  Mais uma vez C. S. Lewis é chamado. É que ele também escreveu um livro inteiro só sobre isso, “Milagres”. Sujeitinho curioso esse Lewis!  A crença em milagres é altamente dependente das própria crenças! Não há como argumentar. É o suprassumo da fé. Lewis escreve que é inútil apelar para as experiências supostamente milagrosas sem considerar os pressupostos filosóficos dos observadores. Collins tenta descrever, sem muito sucesso, a meu ver, o teorema matemático de Bayes sobre probabilidade condicional. Nem vou falar aqui, porque ele acaba exigindo a aceitação do próprio milagre para estimar a probabilidade de milagres. Uma petição de princípio.

Acreditar em milagres, então, é apenas um corolário da própria fé. Ponto. Mas Collins alerta que pior que a crítica materialista é a imputação de milagres a fatos naturais ou ilusões probabilísticas. É claro que dos milhares que compram bilhetes de loteria algum que pediu fortuitamente sorte a Deus sairá ganhador. Aí não há milagre algum em princípio. O desabrochar de uma flor só é milagre poeticamente falando. Mesmo curas inesperadas podem ser vistas como situações excepcionais que fogem ao conhecimento da ciência por enquanto. Ele vai pela via de Lewis para aceitar que os milagres são raríssimos e vinculados a propósitos espirituais específicos e não atos comuns de magia extravagantes.

Collins encerra o capítulo sem ilusões. Nenhum desses argumentos sensibilizará os céticos. São materialistas, não admitem o sobrenatural, negam a evidência da Lei Moral e desprezam o anseio pelo transcendente. Não concedem qualquer espaço para milagres. As leis da natureza, para eles, são suficientes para explicar até o evento mais improvável. Se não agora, no futuro.

Contudo Collins puxa uma ponta de fio para trabalhar nos próximos capítulos, apontando para um evento extremamente improvável, sem igual na história, que os cientistas de quase todas as disciplinas concordam que não é compreensível e jamais o será e para o qual as leis da natureza fracassam completamente ao tentar fornecer uma explicação. Seria um milagre?  Que evento será este? 

(Subam as letrinhas, fim de programa).

Nenhum comentário:

Postar um comentário